O NAMORO ATÍPICO

Diariamente, durante a minha caminhada rumo à casa lotérica do meu bairro, sempre me deparo com algum fato que me chama a atenção, servindo de tema para alguma crônica que tanto gosto de escrever. Costumo agir assim, principalmente quando ele é repetitivo, isto é, quando o mesmo fato ocorre rotineiramente no mesmo local e hora.

Sem querer bisbilhotar as atitutdes de ninguém, alguma cena sempre surge aos meus olhos e, de maneira aleatória ela fica registrada na minha mente como que me incentivando para um posterior registro literário. E entre muitos que já captei e os transformei em crônicas, tem esse, por sinal, bem recente.

Sempre no mesmo horário e local percebo um jovem casal que sempre fica namorando, comportadamente, no interior de um carro. É óbvio que ninguém tem nada a ver com isso. Não estão fazendo nada de mais. Pelo o contrário, estão sim, usufruindo um bom e saudável namoro, num local seguro e num horário aceitável. Se eles preferem assim, dentro de um carro, é no mínimo porque nos seus respectivos apartamentos onde moram, não conseguem ficar assim tão à vontade, evidentemente. Apesar do movimento de transeuntes, o que me incluuo, eles não parecem se incomodar com isso. Cada um só tem olhos para o outro. Qualquer pessoa que passa por aquele local perceberá que se trata de um casal de namorados bem comportado e feliz, por que não? Agora, se depois, em outra oportunidade, entre quatro paredes, eles descontarem todo aquele desejo retido, preso, camuflado, aí serão outros quinhentos e mais uma vez ninguém tem nada com isso. Pois, pensando bem, se assim o fizer, não estarão fazendo outra coisa senão dando evasão aos seus mais recônditos desejos recíprocos, frutos da paixão e atração recíprocas e autênticas. Afinal, se há amor, muito além da atração sexual, é mais do que justo que se entreguem e doem de corpo e alma conforme dita a natureza humana. O que seria inadmissível e contraproducente é que um dos dois ficasse se aturando mutuamente. Se isso acontecesse, aquele carro ficaria muito pequeno para aqueles dois jovens.

Falem o que quiserem sobre o relacionamento humano, mas o amor sincero ainda prevalece e dá sentido a vida das pessoas de um modo geral. se não fosse assim, esse nosso mundo tão conturbado, violento e repleto de celeumas e picuinhas em todos os sentidos, já estaria bem perto do seu epílogo. Porém, ainda bem que existe uma parcela da humanidade que, paulatinamente, vai cada um encontrando a sua alma gêmea e assim vão formando famílias felizes, apesar dos pesares. Conforme muito bem escreveu o renomado escritor russo Tolstói, no seu belo, mas ao mesmo tempo trágico ANA KARENINA: "TODAS AS FAMÍLIAS FELIZES PARECIDAS ENTRE SI; AS INFELIZES SÃO INFELIZES CADA UMA A SUA MANEIRA!".

Portanto, o amor é mais importante do que tudo no mundo. O resto é resto. Não importa. Por isso eu escrevi:

Eu te amo é uma frase corriqueira

É proferida em qualquer lugar;

Mas é mentira falar dessa maneira,

Se se não é capaz de ao outro se dá.

João Bosco de Andrade Araújo

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JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 04/04/2009
Reeditado em 05/04/2009
Código do texto: T1522928