A PALHAÇADA NO CIRCO
A PALHAÇADA NO CIRCO
PARECIA ser um dos piores dias da minha vida! Quando você vai ao circo vai pra sorrir, nunca pra se aborrecer. Vou te contar a palhaçada no circo.
Picópolis é uma cidade pequena. Não tem nada pra divertir, a não ser uns balanços quebrados onde vez em quando cai uma criança. Foi então que na praça passou o carro do Circo Cercou, anunciando a chegada dele. Eu não queria ir, mas quando anunciou que ele foi proibido em Tinákia então eu quis saber o por quê. Eu fui só pra isso. Ao chegar no guichê o homem disse que eu teria que ver, para ver tinha de entrar e para entrar tinha de pagar. Então paguei pra ver. Entrei pelo cano. Por baixo da lona havia um cano e foi por ali que entrei. Lá dentro me sentei, já havia começado o espetáculo, ou melhor, a palhaçada: o trapezista tentou passar por uma corda de aço comendo melancia. No meio da corda vinha ele e a melancia despencando sobre a rede. Um palhaço todo respingado de melancia pedia desculpas ao público dizendo que era a primeira vez que aquilo acontecia. O trapezista se levantou assustado dizendo que lá de cima viu a sogra dele na arquibancada. Eu esperava que o mágico fizesse alguma coisa melhor! Cumprimentou o público com uma cartola na mão. Na outra mão podia se ver o dedo polegar enfaixado com gaze e esparadrapo. Dizia não haver nada na cartola, o palhaço assistente confirma que não há nada e ao meter a mão na cartola, sai de dentro um coelho, não sem antes morder o outro dedo polegar do mágico. Aiiii!!! O coelho corre para o meio da platéia, a gritaria é geral, enquanto o “mágico” se contorce de dor e tem o outro polegar enfaixado. O comedor de fogo pediu auxilio a moça, mas com medo ela levava um extintor. A cara do comedor de fogo ficou toda branca por causa do pó do extintor, pois mal ele riscou o fósforo ela acionou o extintor na cara dele. Eu então fui até o guichê e pedi o meu dinheiro de volta, eu disse que o espetáculo não valia nada. O homem bondosamente me devolveu os dez contos que eu havia pagado, mas então ouvi uma gargalhada na platéia e fui ver o que era. Havia um macaco no palco e um palhaço tentava fazer com que ele subisse no velocípede. Eu me sentei porque sempre acreditei na graça dos animais, sempre foram sinceros. O palhaço só faltava dar cascudo no macaco. “Vamos Caco, suba no velocípede, o público quer ver!” O macaco pedia uma banana como forma de pagamento. Comia a banana e não subia. “Caco não me faz passar vergonha na frente do público!” O macaco pedia mais uma banana como pagamento. “Caco suba no velocípede pelo amor de Deus, estou pagando mico por tua conta”! A gargalhada do público é geral. Até eu tive que rir. “Macacos me mordam! Treinei esse bicho a semana toda pra ele fazer isso comigo”! Tira o nariz redondo com raiva e atira no chão. O macaco pede mais uma banana. “Caco você ta me fazendo de palhaço!” O palhaço nega a banana. O macaco faz cara triste. Deita no chão e finge ta morrendo de fome, tremendo. “Está bem, está bem. Só mais uma!” Ao apanhar mais uma come e corre para jaula. Vai dormir. O palhaço pede desculpas ao público e eu não sei por que o público aplaude. Da platéia sai uma menina com o cabelo todo desgrenhado e vestido amassado e pede ao palhaço o restante da banana na penca. Ela volta para a platéia sorrindo e comendo as bananas que sobraram. Na platéia risos, não entendi, a menina só disse que estava morrendo de fome. O próximo anúncio me deixou nervoso. Era um número com leão. O domador apareceu, mas o leão não. Ele andava de um lado para o outro com a corda, mas nada do leão entrar... “E aí Faminto, vai entrar ou não?” – O nome dele era Faminto e finalmente ele pede desculpas à platéia, pois o leão não apareceu. “Acho que ele achou a sua comida” – Suspirei aliviado, mas logo ouvi gritaria na platéia. Um palhaço havia jogado um leão de pelúcia em cima do povo e aquele era o motivo da gritaria...Voltei ao guichê e devolvi o dinheiro. Eles tinham de pagar o mico.