SINDROME DO PANICO

PÂNICO

1977. Tudo isso que ocorre com qualquer mortal, como o medo repentino da morte, ocorreu com meu amigo e ele entrou em pânico. Então, ele tomava uma garrafa de cachaça no gargalo, que passava o medo, porque vida de bêbado não tem dono. Tomava de tudo quando não havia cachaça na mão. Com o tempo a mão não esquecia a cachaça, e o medo da morte separou os amigos. Era a fuga da morte súbita pelo afogamento na embriaguez que não embriagava, mas consolava a morte não ocorrida. Psiquiatras, médicos, Pronto Socorro, todos, ele freqüentava a qualquer hora, porque morria a cada segundo, às vezes só chegava lá bêbado, e daí era pior. 1984. Um médico receitou diazepam e diagnosticou que sofria de medo do pânico, daí tomava 10 mg. 1993. Passou para o clonazepam 2 mg porque outro médico falou síndrome do pânico. Pior era sofrer do que não sabia. Ser caluniado pela ignorância. 2003. Outro médico lhe receitou o cloridrato de sertralina, mas agora era transtorno. Ele achava engraçado que a maioria dos remédios receitados era sal, e eu brincava com ele: se a vida era ácida, também dos ácidos se faziam os sais. O salário é o sal que nos tempera a vida. O medo da morte súbita é martírio pra quem dela padeceu, morrendo a cada minuto, vendo sua vida passar e tendo de agarrá-Ia se escondendo de tudo para fugir da morte, porque ela não pertence a nós, aí discordo da razão, esta sim pertence a nós, e passo a duvidar que Deus exista e de brincadeira acho que o que nunca existiu foi à morte. Se meu amigo permaneceu vivo é porque negou a morte. Nós os mortais, devemos acreditar e ter fé que a vida é um dom de algo e agarrar a ela de qualquer jeito porque o que tem que ser será. Não se entregar jamais, lutar sempre. Agarrar a qualquer coisa que nos atraque num porto seguro. Se têm cura o pânico eu não sei, mas do que vi no meu amigo pra sempre recordarei. Hoje ele leva a vida normal e aprendeu a seguir tocando em frente. Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais. Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe, só levo a certeza de que muito pouco eu sei, ou nada sei. É acho que Almir Satter teve Pânico depois dessa.

bueno
Enviado por bueno em 03/04/2009
Código do texto: T1519932
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