Abstinência.

No começo da tarde cansei do dia. Na fadiga de mim mesma busquei uma paisagem calma para repousar meu olhar.

Fechei os olhos para desviar outros olhares e não me perder do seu.

Procurei outra vida para viver nas páginas de uma grande escritora com quem me identifico quando ela é apenas Clarice falando de si  em cartas.

Ainda assim não relaxei.

Desejei morar em uma cidadezinha pacata e aguardar a hora de por a cadeira na calçada para ver a noite chegar.

Conversaria com os vizinhos. Ouviria maledicências sobre uns e outros e defenderia todos.

Que mal poderia haver no comportamento de pessoas simples?

Que mal poderia haver nas inconfidências vizinhas?

Cada um leva a vida como pode.

A  noite terminaria tranquila para recomeçar um novo dia.

A tarde, no entanto, continuou sua pequena agonia.

Era a abstinência me afligindo.

Cedi à saudade. Vim ao computador e acendi um cigarro.

Vida saudável também me angustia.
Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 02/04/2009
Reeditado em 12/04/2009
Código do texto: T1519804
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