O País do Futebol

Sem sombra de dúvidas somos o país do futebol, sinceramente não gosto muito deste título, muito menos de tal esporte, pois em minha opinião falta a ele a emoção do basquete, a plasticidade do surfe, a técnica do voleibol, a competitividade do triátlon, enfim, é sem graça.

Entretanto, não posso deixar de observar o quanto este esporte retrata nossa sociedade com extrema fidelidade. Vejamos:

No futebol predominam dirigentes corruptos, sem escrúpulo, capazes de todo tipo mazelas para desviar o dinheiro dos clubes e federações que dirigem. Será que isso nos lembra algo? Uma patotinha que se encontra em Brasília, por exemplo, não é idêntica?

No mundo da bola muitos dizem que o importante é ganhar, independente se for com gol de mão ou em posição de impedimento, resumidamente, não importam os meios e sim o objetivo final, neste caso ganhar, se for roubado, melhor ainda.

Pois é exatamente assim que nossos políticos pensam: Não importa se compro seu voto, o importante é me eleger; e os eleitores: Não me importo se vendo meu voto, o importante é ganhar algo, mesmo sendo desonestamente.

O futebol brasileiro é o melhor do mundo, mas todo jogador tupiniquim sonha em jogar na Europa. Não entendeu? Eu explico: Com a justificativa de maiores salários, o que nem sempre é verdade se considerarem impostos e custo de vida, muitos jogadores se aventuram pelo mundo afora, principalmente no velho continente.

Esta prática, porém, é o reflexo do nosso eterno sentimento de colônia, afinal tudo fora do Brasil é melhor! Este sentimento está tão enraizado que certa vez vi uma apresentadora de TV encantada com um salão de beleza para bonecas (brinquedo mesmo) que ela conheceu nos EUA, “Só podia ser em New York” - dizia ela, toda eufórica. É desnecessário comentar, não acham?

O futebol é um esporte coletivo certo? Então por que o atacante recebe muito mais que um defensor? Por que em um mesmo time existem salários tão desproporcionais? Por que alguns times pagam bem, e outros, bem-mal?

Isso é fácil responder, no Brasil, assim como no futebol, temos que manter nosso status de pior distribuição de renda do mundo. Nunca haverá remuneração justa, sempre criarão justificativas infundadas para que poucos ganhem muito, e muitos ganhem pouco, ainda que todos joguem no mesmo time.

A nação do futebol tem um grande campeonato masculino, com patrocinadores, vários clubes, investimento pesado, uma maravilha! Neste mesmo país, há um torneio feminino, com escassos recursos, divulgação insignificante e premiação modestíssima.

O mesmo descaso com o futebol feminino se estende para a maioria das trabalhadoras brasileiras, que além de ter jornada dupla, empregos mais modestos, em muitos casos, amargam a desvalorização de sua mão de obra.

No país do futebol as crianças sonham ser jogadores de futebol. Nada é mais obvio, afinal é assim que uma pessoa que nasceu em uma favela pode ter um carro importado, uma mansão e muito dinheiro, o importante é ter, e não ser.

Neste contexto, ser bibliotecário, assistente social, geógrafo, matemático, topógrafo ou qualquer outra profissão menos nobre que jogador de futebol não é um sonho, talvez até seja um pesadelo.

Ninguém vive de passado, provavelmente por essa razão os clubes de futebol e seus torcedores desprezam os antigos ídolos, poucos são aqueles que contam com o mínimo de retribuição pela dedicação e serviços prestados.

Exatamente a mesma prática da pátria de chuteira em relação aos seus aposentados, pessoas que doaram suas vidas para a construção deste país, que pagaram durante anos a previdência social, e que, na hora em que mais precisam são esquecidos e humilhados.

As regras do futebol são modificadas de competição para competição, torneio mat-mata, pontos corridos, quadrangulares, repescagem, turno e returno, gol de ouro, uma farra. Sempre que for necessário muda-se à regra do jogo.

Apenas para lembrar, nos últimos processos eleitorais do País do futebol, tivemos uma série de mudanças nas regras do jogo, mandatos de cinco anos, votação em dois turnos, reeleição, regras para fidelidade partidária, mudanças sempre planejadas para beneficiar grupinhos, os mesmos de sempre é óbvio!

Outra constatação inevitável é em relação ao fato da justiça desportiva ser o retrato da justiça brasileira, começando por juízes que vendem resultados como o Sr. Edilson Pereira, um dos únicos a ser punido por essa prática, chegando até as sentenças duvidosas dos tribunais desportivos.

Qualquer semelhança com Dr. Nicolau dos Santos Neto entre outros escândalos na justiça deste país não é mera coincidência, é a mais pura realidade!

E para finalizar, uma triste observação, no futebol quando um time apresenta maus resultados, mesmo que esse time não receba salários (culpa dos dirigentes), não tenha capacidade técnica (culpa dos jogadores) e receba uma pressão psicológica desproporcional (culpa da torcida), troca-se o técnico, também conhecido como Professor.

Pois é! A culpa é do Professor, do sujeito que recebe péssimos salários (culpa dos governantes) que tem péssimos alunos (culpa dos pais, do modelo sócio-educacional, dos alunos, etc.) e que está sempre submetido a uma pressão psicológica desproporcional (culpa da sociedade do país do futebol).