A ALTITUDE
Quando assistimos ao jogo do Brasil contra o Equador em Quito observamos um selecionado sem brio e incapaz de demonstrar ousadia nos lances e ficamos com a sensação de que nosso selecionado estava – mais uma vez – deixando de honrar a “amarelinha”. Esse negócio de que jogar na altitude é um adversário a mais, ainda não tinha convencido e quase todos nós tínhamos a idéia de que essa questão era um embuste e que os dirigentes utilizavam esse episódio como uma desculpa para uma exibição desastrosa.
Ontem, com a derrota dos Argentinos por 6 X 1, em La Paz, na Bolívia, passamos a enxergar de uma forma mais realista esse problema. O time Argentino sempre foi mais aguerrido que o grupo brasileiro. No jogo de ontem até o Tevez que é um jogador dinâmico e feroz no que diz respeito à sua forma briguenta de jogar, sentiu de maneira incrível os efeitos da altitude. A Argentina foi um “timéco” dentro de campo; a defesa não acompanhava as jogadas; os atacantes não tinham “pique” para conduzir a bola; não existiu nenhum esquema tático; os jogadores assumiram uma postura de derrotados logo no início do segundo tempo quando levaram o quarto gol.
Eu tenho acompanhado os cronistas esportistas como um todo e não observei nenhum deles colocar o “peso” da altitude para a fraca atuação do Brasil no jogo contra a seleção Equatoriana. Todos eles queriam é criticar o fraco desempenho, mas, quase todos, na sua maioria, viam um time sem tática e com jogadores anêmicos que não tinham vibração nas jogadas. Isso foi uma injustiça tremenda e gostaria que alguns deles chegassem hoje nos seus meios de comunicação e se retratassem, admitindo que o Brasil não jogou bem porque humanamente é impossível jogar bem nessas condições.
Assisti ontem ao jogo do Paraguai; também contra o Equador e observei que os jogadores paraguaios tiveram as mesmas dificuldades que o Brasil teve em jogar na altitude de Quito. Jogar nessas condições é ter a mesma sensação que cada um de nós tem quando queremos dar uma corridinha e nos falta o ar, porque não estamos acostumados a exigir de nosso organismo esse esforço físico. Os jogadores sentem essa mesma sensação, ou seja, sabem que tem capacidade física, mas ela foge sem explicação.
Os cronistas esportivos em geral são avassalares nas críticas ao Dunga. Não sou daqueles que comungam com algumas formas desse treinador conduzir o jogo, pois muitas vezes não faz as mudanças na hora exata e nem coloca o jogador certo para aquela ocasião. Mas, querendo ou não, o Brasil é o segundo lugar na colocação geral e só está três pontos atrás do Paraguai (1 º colocado). Assim, é conveniente darmos um tempo para esse comandante, para que ele – com a calma que o cargo exige – ir aos poucos formando um elenco que possa ser forte para a Copa do Mundo de 2010. A meu ver, não adianta neste momento só criticarmos e não enxergarmos nenhum mérito, porque outros treinadores mais experientes e de renome também não conseguiram alcançar bons resultados com nosso selecionado. Podemos citar dentro desse universo o Vanderley Luxembugo e o Emerson Leão que alguns críticos chamam de técnicos de ponta. Nenhum dos dois conseguiu equacionar a complexidade de um grupo como o nosso selecionado, pois além de não haver tempo para treinar, também não há possibilidade de escalar uma equipe constante, em face da questão sazonal da convocação, porque os jogadores servem aos clubes e estes são o ganha-pão do jogador, logo, a seleção está em segundo plano como agente profissional.
É bem verdade que os jogadores de outrora, vestiam mais a camisa da seleção, porém, há que se dizer também que não trocavam de clube como trocam hoje. Assim, devemos entender que a situação atual é excepcional e, própria da nossa época; sabendo-se que os melhores jogadores - apesar da tenra idade - passam a atuar bem cedo no exterior. Assim, não devemos esperar que nosso selecionado reúna um grupo tão excepcional como outrora, pois não podemos jogar, exclusivamente, com os jogadores que atuam no Brasil, posto que, teoricamente não seriam os melhores, posto que se reunissem tal qualidade não estariam aqui, porque a aspiração de todo jogador é construir a vida na Europa.
Por outro lado, já não vivenciamos mais os craques que fizeram história como Pelé, Zico, Sócrates, Romário e os Ronaldinhos. Isso faz parte do passado. Nossa esperança se resume em novatos como Robinho, Alexandre Pato, Neymar (do Santos), Nilmar etc. mas, convenhamos, é uma safra acanhada se a formos comparar com o passado. Assim, temos de admitir que nosso futebol não é mais tão cheio de arte como foi no passado, pois hoje ainda apostamos no Ronaldo (Fenômeno) e em Ronaldinho Gaúcho, como se eles ainda pudessem reproduzir jogadas do passado. Isso é pura ilusão. Aliás, nesse instante, alguns jogadores (mirins e juvenis) que nunca ouvimos falar já estão sendo arregimentados por empresários, para jogar no exterior. Quando despontarem lá fora serão os gringos que irão desfrutar de sua arte.
Assim, sempre que nossa “amarelinha” estiver enfrentando o 12º adversário, chamado altitude, não vamos esquecer que os jogadores são humanos e só produzirão dentro de seu habitat natural. As montanhas são próprias para os alquimistas. Aliás, nem estes – treinados e experientes – são capazes de suportar o ar rarefeito das alturas. Nem podemos atribuir o fracasso ao treinador da seleção, pois ele não pode entrar em campo e nem amenizar os efeitos da natureza.