Crises e fissuras no modelo moral atual.

Crises e fissuras no modelo moral atual.

Estamos em um período tenebroso, cheio de duvidas, expectativas, especulações, mentiras publicas e verdades particulares. Vivemos um período de crise econômica. Uma crise econômica mundial, que pode ser comparada a quebra das bolsas nos Estados Unidos nos anos vinte do século passado. Quando escutamos jornalistas, analistas econômicos, políticos e toda essa gente formadora de opinião, ficamos com medo até de sair na rua para não deparar com essa tal crise. Mas afinal, em que essa crise atinge nossos lares, nossos familiares, enfim, nosso contexto sociocultural?

A verdade é que essa crise econômica tem serventia para muita gente. Ela é uma boa desculpa para esconder uma outra crise, mais profunda e muito mais duradoura. Falo de uma crise de valores que se instaura na sociedade, em todas suas classes e instituições. Falo de uma crise no que dá sentido e norteia o homem moderno, nos seus próprios pilares morais e culturais. Falo da crise dos valores hipócritas.

Posso explicar o que estou falando. Invocando esse período de crise, as pessoas costumam legitimar ações e praticas que seriam inaceitáveis em períodos de abundância de capital, como se no Brasil para os menos favorecidos já existiu algum período de abundância de capital.

Vejamos por exemplo, existe o camelô que aumenta os preços de seus produtos do Paraguai sem nota dizendo que o preço do dólar aumentou, mesmo que ele tenha comprado o seu estoque seis meses atrás quando o dólar estava em baixa. Temos também o pequeno empresário que despede aquele empregado que não gosta dizendo que a crise está o forçando fazer corte no orçamento. Temos o seu colega vendedor que rouba sua venda por que está mais necessitado com você por causa da crise e dos filhos para alimentar. Temos os clientes que não podem comprar produtos agora por que estão com medo da crise. As empresas que contratam seus empregados pagando um salário miserável para eles, dizendo que não podem pagar mais por causa da crise.

São diversos exemplos no cotidiano de maneiras como a palavra crise é usada para disfarçar uma pratica latente em todo brasileiro. A hipocrisia. O habito brasileiro de não dizer a verdade, de florear mentiras, de certa forma, a tão falada desonestidade do brasileiro, que dizem ser herdada do nosso passado colonial, mais uma desculpa difundida entre tantas outras que escutamos por ai.

A verdade é dolorida e gera conseqüências desconfortáveis, esse é o pensamento que temos desde a mais tenra idade. Somos forçados a mentir para viver, a dar um jeito, a ser mais esperto que os outros.

De certa forma essa contestação é triste, é uma verdade inconveniente, como diria Al Gore. Mas é a realidade de um povo tão carente que desenvolveu essas armas para sua sobrevivência. Deveríamos ser ensinados a praticar o habito da verdade desde pequenos, por mais que fosse difícil ou duro praticá-lo. Digo isso hoje na condição de mais um cidadão brasileiro, hipócrita e sobrevivente como muitos, mas também, cansado de toda essa lama que nos reveste e de todo esse estigma brasileiro. Hoje eu procuro mudar, como dizem nos alcoólicos anônimos, um dia de cada vez.