SEUS DEFEITOS PODEM SALVÁ-LO!


Crescemos ouvindo o mais especial dos ditados da vovó: “ÁRVORE QUE NASCE TORTA, CRESCE TORTA”. Embora muitos tentem em vão discordar e modificar esta premissa popular que encobre tantas condutas incorretas - é a vovó que deveras tem razão. Alguém que nasça sem os olhos pode com as bênçãos da ciência ganhar olhos artificiais, mas, ainda assim ele será um ser desprovido de visão natural - a luz que revela suas fotografias a frações imperceptíveis, apenas lhe servirá como produto de uma máquina introduzida na forma de robô. Nascer e viver sem olhos é uma condição intrínseca ao seu universo constituído. Talvez ele vivesse até melhor sem os olhos, agarrando-se ao aperfeiçoamento de outras faculdades que lhe foram mais promissoras. Quiçá não enxergasse além da mera mortalidade da matéria? Assim também são nossas deficiências morais e espirituais. São como árvores tortas que desesperadamente queremos aprumá-las - quando ao certo deveríamos colocar escoras aqui e acolá, dirigindo-lhe ao objetivo, a sonhada virtude alquímica da alma. Quem tenta aprumar sua árvore torta, usando de artifícios fantasmagóricos - aqueles que longe de corrigir o defeito, simplesmente tapam o sol com a peneira, no final da vida experimentam a posse dos seus defeitos sobre eles - ou seja, ao maquiar e fugir de um defeito, nada faz senão criar um monstro que, adormecido, a qualquer momento cobrar-nos-á bárbaras delinqüências.

As deficiências, sejam quais forem, têm que ser alimentadas tão logo se manifestem. Uma mente assassina, por exemplo, pode ser o fruto colhido pelo indivíduo que ao longo da vida foi punido por pisar em formigas, atirar em passarinhos e até mesmo caçar borboletas. É doloroso admitir, mas se na infância aquela criança não fosse proibida de caçar borboletas e até mesmo de esmagá-las ela teria apenas criado o seu monstro, não o teria feito gigante ao ponto de torná-lo seu escravo. Os monstros que degradam a moral e o espírito agem de um modo inverso: Quando o alimentamos eles não crescem e estimulam-nos a observar de forma inteligente as virtudes que podemos alcançar. Porém se os jogamos no esquecimento, a fome que os alimenta faz com que um jacaré vire um dinossauro - então somos presas fáceis, carne saborosa, assada sobre prantos, escravidão, arrependimentos e gemidos.

Confúcio cresceu alimentando seus defeitos. Quando criança se tinha vontade de matar uma borboleta, fazia mais que isso - esmagava-a. Quanto mais borboletas ele matava mais iluminado ele ficava - como? Simples, observando seus defeitos Confúcio aprendeu que o sentimento por matar borboletas advinha da sua inveja por não saber voar. Até que um dia ele correu… correu horas atrás de uma enorme borboleta azul, de tanto correr ele acabou percebendo que mesmo sem ter asas ele já estava voando… percebeu que não precisava mais matar as delicadas borboletas - metáforas á parte, um dia ele estava sentado voando com seus pensamentos e enquanto tentava acompanhar a dança de centenas de borboletas durante um por do sol concluiu: “OS DEFEITOS HUMANOS SÃO CARACTERÍSTICOS. É PELA OBSERVAÇÃO DOS DEFEITOS DE UM HOMEM QUE CONSEGUIMOS CONHECER-LHE AS VIRTUDES”.

Desde bebê ouvimos: “esconda seus defeitos, ressalte suas virtudes”. A religião se une ao coro e diz: “Não seja egoísta, compartilhe…”. Porquanto os mesmos pais e religião, por conta de seus egoísmos, acham que só suas opiniões e salvação são as corretas.

Em tudo que a humanidade tem fracassado se deve ao fato de querer aprumar sua árvore torta, embora a sabedoria dos grandes mestres sempre diga: “quanto mais torta for uma árvore, mais sofrerá o vento para derrubá-la”. Muitos não compreendem como um veleiro consegue rumar para o seu destino mesmo tendo o vento contra. Simples mais uma vez - é tecendo um caminho torto (em zigue zague) com as velas que ele consegue fazer dos ventos (contra ou a favor) aliados a qualquer época.

O Egoísmo é uma deficiência do espírito que deve ser alimentado para ser observado. Dalai Lama, alimentando seu egoísmo e matando suas borboletas, um dia descobriu como poderia continuar sendo egoísta, matar borboletas e ainda assim elevar-se espiritualmente: “PESSOAS EGOÍSTAS TOLAS SÓ PENSAM EM SI MESMAS, E O RESULTADO É NEGATIVO. EGOÍSTAS SÁBIOS PENSAM NOS OUTROS, AJUDAM DA MELHOR FORMA E TAMBÉM COLHEM OS BENEFÍCIOS”. O Dalai Lama continua a ser uma árvore torta que escorada pela visão alquímica do espírito canaliza toda sua trajetória de vida para a bondade, amor e compaixão.

Blaise Pascal na sua última fase “a dos pensamentos” convicto de que a verdadeira grandeza do homem reside na consciência de seus limites e de suas fraquezas, observa:“É indubitavelmente um mal estarmos repletos de defeitos; mal, porém, muito maior é estarmos repletos deles e não querermos reconhecê-los, pois lhes acrescentamos o de uma ilusão voluntária”. E quantas ilusões não acrescentamos à vida… quantas árvores aprumadinhas não resistem ao menor sopro angelical de uma manhã… quantas árvores tortas não se escondem por puro medo de seus tutores egoístas, sob suas copas, transformando mais à frente aquele que poderia ser mais um Confúcio em um assassino?

É por isso que a sabedoria grita:“OBSERVE SEUS DEFEITOS ENQUANTO OS ALIMENTA, NÃO OS DEIXE FUGIR SENÃO CEDO OU TARDE É VOCÊ QUE VERGONHOSAMENTE SERVIRÁ DE BANQUETE”.No mínimo o que ganhamos por alimentar e observar nossos defeitos é a verdadeira salvação (que ninguém e nenhuma religião podem ofertar) na medida em que eles nos apontam a celebração de todas as virtudes que podemos conquistar.


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