RISCO DE MORTE E DANOS IMORAIS

De uns tempos pra cá tenho visto a antiga expressão RISCO DE VIDA sendo substituída por RISCO DE MORTE. Não prestei muita atenção ao fato, pois esses modismos na linguagem são coisas que não alteram em nada os fatos. Lembro que na época do auge dos anos de chumbo, decidiu-se, em um ufanismo nacionalista empurrado goela abaixo, que a disciplina Português seria chamada e assim o foi por longo tempo, de Língua Nacional, depois trocada para Língua Portuguesa, o que na verdade, não modificava em nada a sua existência. E não lembro mais o porquê, mas pouco antes disso, algum gaiato metido a gramático ou coisa que o valha, inventou que as histórinhas e histórias passariam a se denominar estória, porque no inglês havia essa distinção entre story e History. Também não tomei comhecimento de como isso caiu em desuso, inclusive porque nosso professor de gramática dizia ser isso uma bobagem e a gente devia continuar escrevendo história com agá minúsculo e pronto. Mas como sempre ocorre em novidades que possam pôr em evidência o conhecimento de um cristão, que por algum motivo deseja parecer culto e conhecedor de regras, a tal ESTÓRIA serviu para alguns tentarem exibir conhecimento. E, da mesma forma , tem gente que pensa que usar todos os esses do plural, e aí sempre há os exageros por conta da inabilidade e saem aqueles TU ESTIVESTES, bem como saber o feminino de cupim, o plural de pão e os detestáveis usos baseados numa prosódia anacrônica pronunciando MÓLHOS (plural de molho) e FÊCHA (do verbo fechar) é ser conhecedor da nossa língua.

Com a recente ceifada em alguns acentos e hífens, conseguimos criar monstros como AUTORRETRATO e não sabemos mais, se o contexto não ajudar, se PODE é presente ou pretérito, entre outras coisinhas. E eu que nunca decorei a regra do uso do hífen, como porvavelmente a maioria dos brasileiros, agora que achava que sabia na decoreba e no olhômetro, terei que novamente aprender. Mas AUTORRETRATO eu me nego a escrever. Aliás, vou ignorar solenemente esses modismos, nem que tenham sido impostos por decreto.

Por outro lado, precisamos entender que escrever bem não está obrigatoriamente ligado ao fato de termos feito curso específico do assunto, como é o meu caso. Diploma não é garantia de nada.

Ocorre que hoje, estando a escrever um comentário a uma escritora numa crônica que falava de momentos difíceis que enfrentamos como consumidores de qualquer serviço, tendo em vista o mau atendimento, lembrei de momentos muito ruins passados e quando fui escrever que o agravo muitas vezes poderia ser caracterizado como de danos morais, a primeira coisa que se desenhou em minha mente como um letreiro luminoso foi a palavra IMORAL. Dizer que é um dano à moral, seria como dizer que é um risco à vida, pois não? Aí, por analogia, criei eu também o meu modismo linguístico e escrevi com toda a ravia dos momentos vividos numa loja: tal situação pode ser caracterizada como DANOS IMORAIS.

Está portanto, feito o registro e não podemos nunca esquecer que a língua falada é um ser em evolução, sendo constantemente adaptada pelas necessidades do momento. Aí o povo vai criando novas formas de designar as coisas aonde a gíria é a vanguarda mais expressiva do idioma. Dessa forma,, estando bastante gasta pelo uso a palavra CABEÇA, alguém inventou a CUCA e esta incorporu-se há muito ao falar do povo. E agora, retomando, surge CABEÇA como adjetivo como em PAPO-CABEÇA. Da mesma forma, pra dizer que algo é mesmo o supra-sumo, o povo diz que é MAIS MELHOR, pois este adjetivo já dá mostras de uma certa anemia semântica. E com a internet temos agora o ORKUTÊS que surge pelo fato de conversas por escrito pedirem abreviaturas e praticidade. Mas, ao contrário do que alguns possam pensar, não reside aí o problema das dificuldades dos estudantes no manejo da linguagem. Nem podemos afirmar que na internet escreve-se muito mal. Ela só registra uma realidade que é bem mais complexa.

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 01/04/2009
Reeditado em 01/04/2009
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