A Verônica
de São Francisco
1. Em toda a Bahia, nada, absolutamente nada, o faz lembrar. Em Salvador, uma cidade também franciscana, não há um beco, uma travessa, uma esquina, uma rua, uma praça com o seu nome.
2. Mas, se em 1867, os pobres, os miseráveis que perambulavam pela capital baiana tivessem sido consultados, o teriam feito santo. Na Igreja primitiva os santos nasciam da votade popular. Afinal, Vox populi, vox Dei.
3. Falo de frei Francisco das Chagas, um caridoso franciscano espanhol que viveu e morreu em Salvador no século XVIX.
4. Que tal ele, madre Vitória da Encarnação e irmã Dulce nos nossos altares? A Bahia seria, indiscutívelmente, a terra de todos os santos...católicos.
5. Um frade espanhol! Meus primeiros contatos com o bom povo espanhol aconteceram no início de 1957 quando passei a morar em Salvador. E logo conclui que os espanhóis tinham desembarcado nesta cidade com o firme propósito de construir seu pé-de-meia, com o suor do seu rosto.
6. Vindos, na sua grande maioria, de Vigo e de Pontevedra, eles não tinham hora para trabalhar e nem escolhiam empregos. Alguns tiveram sorte, e ficaram ricos. Outros, menos bafejados por ela, ganharam o suficiente para viverem dignamente.
7. Escrevi tudo isso para poder falar melhor sobre frei Francisco das Chagas. Haverão de me perguntar: Afinal, o que fez este frei espanhol de extraordinário para merecer ser lembrado? Fez Caridade, muita caridade!
8.Até onde eu sei, apenas o renomado romancista baiano Afrânio Peixoto dedicou-lhe um expressivo capítulo, no seu formidável "Livro de Horas". A exemplo do que fizera, em página anterior do mesmo livro, com madre Encarnação, a freira clarissa que, segundo Afrânio, seria a primeira santa da Bahia.
9. Filho da Galícia, não se tem, com exatidão, o ano da chegada de Francisco das Chagas na Boa Terra. Sabe-se, entretanto, que, como seus conterrâneos, ele veio pra Salvador disposto a trabalhar duro, ganhar dinheiro, e viver feliz.
10. Na capital baiana, ele montou "uma venda ou armazém de secos e molhados." Durante um bom tempo, foi um pequeno comerciante na praça de Salvador. Mas o bom galego não teve sorte. Faltou-lhe o indispensável animus lucrandi.
11.Conta-se, que ele fazia "exagerada" caridade; vendia fiado; e para cobrir seus prejuízos, tomava robustos empréstimos. Consequência: faliu, e caiu na miséria.
12. Abandonou o comércio, e, no dizer de Afrânio Peixoto, "Deu-se a Deus, de vez!" Pobre e analfabeto, procurou abrigo num convento franciscano, e foi prontamente acolhido. Tornou-se frade, e, como São Francisco de Assis, não se ordenou. Não chegou, portanto, ao presbiterato. Viveu e morreu como um humilde irmão leigo de hábito entregue, literalmente, aos afazeres religiosos, na sua clausura; no seu claustro; na sua cela fradesca.
13. Durante muitos anos foi o porteiro do Convento de São Francisco, no Terreiro de Jesus, levando uma vida de sacrifício, de penitência e de indescritível amor ao próximo. Por causa deste seu exemplar comportamento, "criou fama de santidade".
14. O povo humilde e sofrido o procurava com frequência no parlatório do santuário seráfico de Salvador. A ninguém ele negava ajuda;
sua bênção; dividindo com os necessitados palavras de consolo e solidariedade.
15. Agraciado pelo poeta baiano Muniz Barreto com o título de "Herói da Caridade", o exemplar frade espanhol foi, por Afrânio Peixoto, chamado de a "Verônica de São Francisco".
16. Frei Francisco das Chagas morreu com 86 anos de idade venerado pelos esmoleres que circulavam pela capital baiana.Teve um enterro bonito. Mas foi esquecido. Salvador nunca o homenageou; dando a uma rua o seu nome, por exemplo. A memória de uma cidade está, também, no nome de suas ruas e praças.
17. Os baianos, talvez, nem saibam que o santo porteiro está enterrado num pedaço de chão do maltratado e proletário cemitério da Quinta dos Lázaros, em Salvador, dede março de 1867. Frei Francisco das Chagas, o bom franciscano galego descansa em sua cova rasa e pobre. E, quem sabe, fazendo milagres...
de São Francisco
1. Em toda a Bahia, nada, absolutamente nada, o faz lembrar. Em Salvador, uma cidade também franciscana, não há um beco, uma travessa, uma esquina, uma rua, uma praça com o seu nome.
2. Mas, se em 1867, os pobres, os miseráveis que perambulavam pela capital baiana tivessem sido consultados, o teriam feito santo. Na Igreja primitiva os santos nasciam da votade popular. Afinal, Vox populi, vox Dei.
3. Falo de frei Francisco das Chagas, um caridoso franciscano espanhol que viveu e morreu em Salvador no século XVIX.
4. Que tal ele, madre Vitória da Encarnação e irmã Dulce nos nossos altares? A Bahia seria, indiscutívelmente, a terra de todos os santos...católicos.
5. Um frade espanhol! Meus primeiros contatos com o bom povo espanhol aconteceram no início de 1957 quando passei a morar em Salvador. E logo conclui que os espanhóis tinham desembarcado nesta cidade com o firme propósito de construir seu pé-de-meia, com o suor do seu rosto.
6. Vindos, na sua grande maioria, de Vigo e de Pontevedra, eles não tinham hora para trabalhar e nem escolhiam empregos. Alguns tiveram sorte, e ficaram ricos. Outros, menos bafejados por ela, ganharam o suficiente para viverem dignamente.
7. Escrevi tudo isso para poder falar melhor sobre frei Francisco das Chagas. Haverão de me perguntar: Afinal, o que fez este frei espanhol de extraordinário para merecer ser lembrado? Fez Caridade, muita caridade!
8.Até onde eu sei, apenas o renomado romancista baiano Afrânio Peixoto dedicou-lhe um expressivo capítulo, no seu formidável "Livro de Horas". A exemplo do que fizera, em página anterior do mesmo livro, com madre Encarnação, a freira clarissa que, segundo Afrânio, seria a primeira santa da Bahia.
9. Filho da Galícia, não se tem, com exatidão, o ano da chegada de Francisco das Chagas na Boa Terra. Sabe-se, entretanto, que, como seus conterrâneos, ele veio pra Salvador disposto a trabalhar duro, ganhar dinheiro, e viver feliz.
10. Na capital baiana, ele montou "uma venda ou armazém de secos e molhados." Durante um bom tempo, foi um pequeno comerciante na praça de Salvador. Mas o bom galego não teve sorte. Faltou-lhe o indispensável animus lucrandi.
11.Conta-se, que ele fazia "exagerada" caridade; vendia fiado; e para cobrir seus prejuízos, tomava robustos empréstimos. Consequência: faliu, e caiu na miséria.
12. Abandonou o comércio, e, no dizer de Afrânio Peixoto, "Deu-se a Deus, de vez!" Pobre e analfabeto, procurou abrigo num convento franciscano, e foi prontamente acolhido. Tornou-se frade, e, como São Francisco de Assis, não se ordenou. Não chegou, portanto, ao presbiterato. Viveu e morreu como um humilde irmão leigo de hábito entregue, literalmente, aos afazeres religiosos, na sua clausura; no seu claustro; na sua cela fradesca.
13. Durante muitos anos foi o porteiro do Convento de São Francisco, no Terreiro de Jesus, levando uma vida de sacrifício, de penitência e de indescritível amor ao próximo. Por causa deste seu exemplar comportamento, "criou fama de santidade".
14. O povo humilde e sofrido o procurava com frequência no parlatório do santuário seráfico de Salvador. A ninguém ele negava ajuda;
sua bênção; dividindo com os necessitados palavras de consolo e solidariedade.
15. Agraciado pelo poeta baiano Muniz Barreto com o título de "Herói da Caridade", o exemplar frade espanhol foi, por Afrânio Peixoto, chamado de a "Verônica de São Francisco".
16. Frei Francisco das Chagas morreu com 86 anos de idade venerado pelos esmoleres que circulavam pela capital baiana.Teve um enterro bonito. Mas foi esquecido. Salvador nunca o homenageou; dando a uma rua o seu nome, por exemplo. A memória de uma cidade está, também, no nome de suas ruas e praças.
17. Os baianos, talvez, nem saibam que o santo porteiro está enterrado num pedaço de chão do maltratado e proletário cemitério da Quinta dos Lázaros, em Salvador, dede março de 1867. Frei Francisco das Chagas, o bom franciscano galego descansa em sua cova rasa e pobre. E, quem sabe, fazendo milagres...