Linda... e Viva na Memória
Ele chegava disposto a capinar rapidamente o quintal da casa cor de pêssego do condomínio. Era moreno, alto, magro, caminhava pela estrada com a camisa aberta, peito nu, enxada no ombro. O semblante era sempre alegre, nunca o vi triste, cabisbaixo. Seu apelido era Xis e ele estava na casa dos cinquenta e poucos anos de idade.
Quando era contratado para a capina, ficava ainda mais esperto e chegava ao condomínio sempre cedo, muito antes das 7 horas da manhã. E era nesse momento que Linda entrava em ação. Ela ficava tão feliz ao ver o Xis chegando no portão de entrada do terreno, que não se continha e saía correndo ao seu encontro. Ela tentava abraçá-lo o tempo todo, era um tal de agarra-agarra, de tentativas de beijos (ele sempre virava o rosto durante essas investidas, mas ela nem ligava... e continuava). Linda queria agradar-lhe de todas as maneiras, ficava um bom tempo ao seu lado, principalmente nos momentos em que ele cumpria suas tarefas embaixo daquele sol escaldante. Não se cansava quando ficava de pé ao lado dele, não demonstrava qualquer irritabilidade quando se sentava por muito tempo ou mesmo quando deitava ao seu lado.
Tão bela e meiga, Linda fazia uma festa e tanto com o seu amigo. Se pudesse, tenho certeza de que o ajudaria naquele trabalho tão pesado. Garota e tanto aquela Linda, tínhamos muito carinho por ela... deixou saudade em todos nós da família quando partiu para nunca mais voltar.
Linda não era gente, mas só faltava falar. Era uma especial cadela pastora alemã, gentil, anfitriã, e de tão bonita que era quando filhote, foi 'batizada' por nós com esse nome, afinal ela era linda, linda mesmo, linda demais, linda ao ponto de chamar a atenção de todos, inclusive do ser maléfico - homem ou mulher, não sei, que a envenenou, sem dó nem piedade.
Xis também partiu. Ele já não mais capina na casa cor de pêssego e em nenhuma outra casa da cidade, do país ou do mundo. Foi embora para sempre e espero que esteja num lugar muito bom.
Gláucia Ribeiro (31/3/2009)