Trinta e uns...
Águida Hettwer
 
      Nasci em 1974, onde o Brasil ainda vivia sob a mira da ditadura militar, e a economia do país passava por grande sufoco. Não muito diferente dos dias atuais. O descontentamento popular acenava expressivo e movimentos estudantis universitários, saiam às ruas em passeatas lutando por “liberdades democráticas”.
 
      Criei-me em terras sulinas, onde o sibilar do vento Minuano é uma perfeita cantiga, e amassar geada nos meados de julho, é o mesmo que deixar marcas na calçada da fama. Pelas frestas das janelas espiava o sol reinar, derretendo a fina camada de gelo, nas raízes de minhas íntimas origens.
 
    Com sofreguidão, saltitando com a ponta dos pés, para alcançar as argolas do tempo e acompanhar a evolução dos dias. A vida descortina a frente, sonhos embalados em berço de menina, não me pertencem mais. A voz da experiência bate-me lentamente nas costas, intimando-me a ousar.
 
      Os fios embranquecidos contam histórias, o plissar das marcas de expressão, denunciam noites mal dormidas e um amontoado de banais preocupações. O recomeçar é pago a qualquer preço, estimulante natural para qualquer depressivo.
 
     Lembro-me de quando se é muito jovem, os espelhos nos atraem, mas não sabemos usa-lo. Quando se chega a “casa dos trinta e cinco”, nos tornamos mais exigentes, o olhar penetrante, a serenidade dos gestos, sobrepõe nas formas não tão perfeitas.
 
      Percebe-se a maturidade de uma mulher, quando ela ouve mais do que fala,
Nessa fase da vida muitas palavras são ditas na quietude, como bálsamo derramado, o espaço alargado pela elegância. E a boa educação não enferruja e não sofre com as intempéries.
 
 E os gestos desmedidos são trocados, por uma visão maior do mundo. A vida sendo escrita numa poesia rimada de emoções.
 
 
31.03.2009