ATÉ ONDE VOCÊ É CAPAZ DE VOAR?

O recorde de maior altitude sobre a terra feito por qualquer pássaro é da gralha. Este membro da família dos corvos voa regularmente a uma altura que varia entre 3.500 a 6.250 metros no Himalaia. Um bando foi visto por uma expedição britânica a uma altura de mais de 8.000 metros. O condor, outro pássaro que alcança grandes cadeias montanhosas e rivaliza com o marabu pelo título de “passaro com a maior asa”, assim como a gralha, alimenta-se de carniça ou animais em vias de morrer. Quantos destes não voam pelos nossos pensamentos? Quando lá no alto “que pensamos estar” olhamos para baixo só conseguimos enxergar as carniças da discórdia que até ali nos alimentou, portanto voar mais alto não é questão de altitude, mas de ATITUDE.

A velocidade do falcão-peregrino para pegar sua presa o faz o animal mais rápido do mundo. A velocidade em que ele sobrevoa o mar é de 65 quilômetros por hora. Mas praticamente triplica quando mergulha sobre uma presa, 160-240 quilômetros por hora.  Ele prepara uma emboscada no céu para interceptar sua vítima. Espera nas nuvens cerca de um quilômetro e meio de altura até avistar um alvo que esteja voando. Então vai na direção oposta ao sol, recolhe as asas e mergulha. Surgindo traiçoeiramente do nada, ele derruba sua vítima com um só golpe, voa em círculos e desce para comê-la. Quantos deste não rondam nossos pretensos ideais que, na ânsia de conquistar suas doutas glórias, atropelam traiçoeiramente tudo e todos, querendo fazer de uma longa caminhada um passeio curto? Voar mais veloz certamente não é usar deste atributo para derrubar amigos ou inimigos - é sim, ser peregrino, falcão de sua própria jornada, em que não importa a velocidade porque o tempo para ele não existe - foi deixado para trás, perdido em vôos de tocaia.

Olhando detalhadamente nem imaginamos como a mangangaba, uma abelha de pequeníssimas asas consegue manter seu volumoso corpo no ar num dos vôos mais perfeitos da natureza. O segredo está na aerodinâmica de suas asas que se curvam e giram, gerando vôos de todos os ângulos, de um líro-do-vale a outro em busca de néctar e pólen. Esta às vezes parece sugir em nós quando colhemos o melhor que uma rosa tem, o seu néctar - e não nos importamos com os espinhos que lá estão para protegê-la. Mas… (sempre o “MAS”), a mangangaba emergida, como toda abelha, é frágil e embora tenha ferrões para nos alertar ela morre no primeiro aviso porque perde parte de sua cabeça. Assim matamos nossa mangangaba: ferroamos a crítica, que nos faria voar ainda melhor promulgando novas rotas… novas flores, com a impaciente picada que nos faz perder a cabeça - e voltamos novamente a ser uma gralha ou um falcão-peregrino.

De todos os animais que voam os que mais têm a ensinar são justamente aqueles que quase não voam, como os biguás, que passam a maior parte do seu tempo mergulhando à grandes profundidades para caçar alimentos no mar. Leonardo Da Vinci parecia concordar com os biguás: “Quem só fita estrelas não se volta”… não se enxerga… não se traduz da verdadeira vitória sua vivência. A lição espelhada na vida é uma voz que diz: “os grandes vôos que retornam com grandes suprimentos para a alma e corpo são aqueles advindos de mergulhos profundos na reflexão”. Não importa “até onde somos capazes de voar”, o que vale mesmo é saber, como nos faz refletir o talmude babilônico: “Sempre somos levados para o caminho (vôo) que desejamos percorrer”.

Caso fosse Epicteto que pudesse responder ao título desta coluna diria: “Se assumires a responsabilidade de um papel superior às tuas forças-asas, representa-lo-ás mal e, ao mesmo tempo, deixarás de lado aquele que poderias desempenhar a contento”…. aquele que poderia fazer você voar com perfeição. Concentrar o plano de vôo nas nossas maiores habilidades é que faz a diferença na capacidade que podemos adquirir para guiar-nos à missões de êxito.

Todo vôo é um ideal que pode se tornar miserável ou altruísta e nele experimentamos, infinitamente todos, a mesma loucura de Goethe: “Neste meu peito guardo duas almas, uma a querer separar-se da outra. Uma, no mais vivo prazer de viver, se prende ao mundo com órgãos tenazes; a outra se ergue com força do pó aos campos dos sentimentos elevados”. Do mesmo modo sente Gautier: “É em vão que tentamos abrir as asas. Suja-as demasiada lama; o corpo é uma âncora que prende a alma à terra”. Podemos salvar os Goethes e Gautiers da vida, como? Salvando-nos como exemplo e voando como fez Fiodor Dostoievsky: “O MELHOR HOMEM É AQUELE QUE JAMAIS SE CURVA PERANTE A TENTAÇÃO MATERIAL, QUE SEM TRÉGUA BUSCA O TRABALHO POR DEUS, QUE AMA A VERDADE E QUANDO NECESSÁRIO SE LEVANTA PARA SERVÍ-LA”. O sábio Dotoievsky respondendo, reformularia a nossa pergunta: “ATÉ ONDE VOCÊ É CAPAZ DE MERGULHAR”?


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