Shu é sobrenome oriental?
 
Uma das minhas maiores extravagâncias é comer doce.Sou confessadamente louca por eles.Se tiver açúcar, eu como.
 
E foi por pensar assim, que, certa vez, que aceitei provar doce de feijão na casa de uma amiga cuja família era oriental.Odiei, claro.
 
Na cantina do colégio em que eu estudava, vendia uns sachês de doce-de-leite e de vez em quando eu comprava um. Um dia, o Paulo, o cantineiro, disse que tinha novidade: sachê de brigadeiro e chocolate.Bastou.Passei a andar com eles pendurados na boca.
 
As meninas que me chamavam de Mary, começaram a fazer pilhéria com meu hábito.Como a marca do doce chama-se Chup-Chup, passaram a me chamar de “Mary Chup”.Horrível, não parecia apelido condizente a uma moça de família.Protestei.
 
A Luciana então sugeriu:
 
-Mary Chu, então.
 
Gostei. No final do curso, nem me lembro como, o CH deu lugar ao SH. Quinze anos depois, ainda quando ligo para casa de uma amiga solteira, a mãe dela diz ao ouvir minha voz ao telefone:
 
-Oi, Mary Shu, tudo bem?
 
Sou Mary Shu desde os quinze anos de idade e adoro.O apelido e o doce.
 
Ao fazer o cadastro no Recanto das Letras lembrei-me de duas escritoras de livros didáticos chamadas Maria Fernandes.Os alunos da escola em que eu trabalhava vez ou outra me perguntavam se eu era a autora do livro.
 
Ao preencher o formulário com meu nome “artístico”, não hesitei, escrevi Maria Fernandes... Shu!
 
Vai ver que é por isso que eu tenha me identificado tanto com os haikais.Eu já tive dois publicados: um num Jornal e outro numa Revista de origem nipônica.
 
Eu posso não ser oriental, como meu “sobrenome” parece ser. Talvez eu seja parecida como o doce de feijão que um dia provei na adolescência: marronzinha, tenho açúcar no sangue e uma pitada oriental.Nem que seja de mentirinha.
 

 
(Maria Fernandes Shu – 30 de março de 2009)