“Um Valor Desconhecido”[1]
“Fazemos hoje, nesta coluna, uma honrosa exceção. E como nos sentimos felizes com o prazer da descoberta: Alegria íntima que mais se torna palpável e pujante nos momentos atuais, onde se projetam tantas mediocridades, tantos ‘talentos’ improvisados e se faz silêncio em torno dos reais intérpretes da eterna Beleza.”
O nome de Antônio Lycério Pompeo de Barros é, até o momento, completamente desconhecido dos meios literários e das “famosas críticas” de “igrejinhas”. Aliás sobre essas críticas já acertadamente dizia o grande Rainer Maria Rilker, em sua “Carta a um poeta”: “Estas ou são petrificadas, privadas do sentido no seu endurecimento sem vida, ou hábeis jogos verbais. Um dia, uma opinião faz lei, no dia seguinte, a opinião contraria.”
E é, justamente, desse recolhimento propício às reflexões, fora do bulício ensurdecedor da vida atual, que seu verso faz brotar, viçosas, as mais belas florações do seu Espírito altamente contemplativo. São remígios constantes de sua alma pelo Parnaso, embora a sentir os pés agrilhoados à Terra, frente a toda sorte de vissicetudes, vítima, muitas e muitas vezes, das incompreensões humanas.
Filho de Luiz Pompeo de Barros e D. Maria Ramos de Barros, o nosso focalizado é autêntico cuiabano.
Preserva-se, assim, a tradição de possuir Cuiabá a alcunha de berço da inteligência e da Cultura.
Por circunstâncias várias a que nem os sonhadores escapam, teve o moço – poeta de, embora com o coração ferido, fixar residência em Campinas, no Estado de São Paulo. Surgiu então, o primeiro adeus à sua gente, à mãe velhinha que ficou rezando, ao rio de sua infância marulhando saudades, queixas, recordações.
É dessa nostalgia que se ressentem muitas de suas páginas poéticas. E, em “Solidão Interior”, depois de um confronto com a solidão “que vem das matas”, que “se extende nas planuras”, é ele quem nos confessa:
“Mas, a maior, a solidão mais triste,
a mais profunda solidão que existe,
não vaga por aí... Mora comigo!”
Qual o sentimentalista genuíno que não sente, interiormente, esse estado de coisas, longe dos seus, distante de sua terra natal?!...
E o poemário de ricas cintilações, transforma-se em verdadeiras cataduplas de ímpetos, prantos. E aquela canção de mansa ternura que, por vezes, suspira aqui, acolá, faz com que o Artista vire novamente. E, de joelhos, na eterna interrogação ao Criador dos Seres e das Coisas, indaga com lágrimas – nos olhos:
“Por que, meu Deus, morrer a pobrezinha,
longe de tudo, ao léu, triste e sozinha,
deixando, além, o campo! O céu anil?
Por que, meu Deus, quem, livre, o espaço corta
Cai, afinal, estatelada e morta
No chão de um mundo escravisante e vil?!”
O soneto acima, intitulado “Por quê” e do qual focalizamos os tercetos finais, é uma das inúmeras jóias de sentimentos, integrada numa coletânea de 20 e tantos poemas. Como se vê, descreve a morte de uma rolinha.
Identificado com os puros sentimentos de asceta, o nosso aedo segue o exemplo de J. G. de Araújo Jorge, que afirma:
“Não me envergonho nunca de falar de amor!”
E ama. E vibra. E sofre. E cumpre, de cabeça erguida, a sua Missão de verdadeiro estóico em face à realidade áspera do cotidiano.
Nessa qualidade de adaptação tão própria dos privilegiados, buscando sempre uma fórmula nova para suavizar as saudades do passado, o nosso vate canta a sua Atibáia, a sua nova cidade que é Campinas, com sua natureza prodigiosa, com suas revoadas de andorinhas.
Alguns leves deslizes técnicos que se fazem notar no decorrer da leitura, a insegurança, por vezes, no manejo com a lira, são sobrepujados, e de uma forma surpreendente, pela constante que é o sentimento, a sensibilidade, e, sobretudo a sinceridade que emana de suas estrofes.
Antônio Lycério nasceu Poeta. É o essencial, o importante.
V ive de mãos dadas com a saudade e a realidade da vida que o fazem dizer belezas como estas:
Distante está meu pensamento. É dia
do meu aniversário. Neste instante,
em meio ao meu trabalho fatigante,
vou rabiscando, à toa, esta poesia!...
Distante está meu pensamento agora,
numa cidade alegre, alvissareira,
onde avistei a luz do sol primeira,
onde, talvez, minha mãezinha chora,
a relembrar, tristonha, os tempos idos,
anos felizes, muito bem vividos,
unida aos filhos para orientá-los.
A vida é mesmo assim, minha velhinha,
indiferente a tudo ela caminha,
unindo seres para separá-los.
É a revolta do poeta, dentro do seu próprio aniversário. É o recalque intempestivo de quem muito ama. É próprio aos que possuem um sétimo sentido do mundo.
Antônio Lycério Pompeo de Barros promete-nos um livro para, muito breve. Cremos nós que não decepcionará, pois é o eleito das Musas. E isso é raro nos dias que correm.
Newton Alfredo
“Fazemos hoje, nesta coluna, uma honrosa exceção. E como nos sentimos felizes com o prazer da descoberta: Alegria íntima que mais se torna palpável e pujante nos momentos atuais, onde se projetam tantas mediocridades, tantos ‘talentos’ improvisados e se faz silêncio em torno dos reais intérpretes da eterna Beleza.”
O nome de Antônio Lycério Pompeo de Barros é, até o momento, completamente desconhecido dos meios literários e das “famosas críticas” de “igrejinhas”. Aliás sobre essas críticas já acertadamente dizia o grande Rainer Maria Rilker, em sua “Carta a um poeta”: “Estas ou são petrificadas, privadas do sentido no seu endurecimento sem vida, ou hábeis jogos verbais. Um dia, uma opinião faz lei, no dia seguinte, a opinião contraria.”
E é, justamente, desse recolhimento propício às reflexões, fora do bulício ensurdecedor da vida atual, que seu verso faz brotar, viçosas, as mais belas florações do seu Espírito altamente contemplativo. São remígios constantes de sua alma pelo Parnaso, embora a sentir os pés agrilhoados à Terra, frente a toda sorte de vissicetudes, vítima, muitas e muitas vezes, das incompreensões humanas.
Filho de Luiz Pompeo de Barros e D. Maria Ramos de Barros, o nosso focalizado é autêntico cuiabano.
Preserva-se, assim, a tradição de possuir Cuiabá a alcunha de berço da inteligência e da Cultura.
Por circunstâncias várias a que nem os sonhadores escapam, teve o moço – poeta de, embora com o coração ferido, fixar residência em Campinas, no Estado de São Paulo. Surgiu então, o primeiro adeus à sua gente, à mãe velhinha que ficou rezando, ao rio de sua infância marulhando saudades, queixas, recordações.
É dessa nostalgia que se ressentem muitas de suas páginas poéticas. E, em “Solidão Interior”, depois de um confronto com a solidão “que vem das matas”, que “se extende nas planuras”, é ele quem nos confessa:
“Mas, a maior, a solidão mais triste,
a mais profunda solidão que existe,
não vaga por aí... Mora comigo!”
Qual o sentimentalista genuíno que não sente, interiormente, esse estado de coisas, longe dos seus, distante de sua terra natal?!...
E o poemário de ricas cintilações, transforma-se em verdadeiras cataduplas de ímpetos, prantos. E aquela canção de mansa ternura que, por vezes, suspira aqui, acolá, faz com que o Artista vire novamente. E, de joelhos, na eterna interrogação ao Criador dos Seres e das Coisas, indaga com lágrimas – nos olhos:
“Por que, meu Deus, morrer a pobrezinha,
longe de tudo, ao léu, triste e sozinha,
deixando, além, o campo! O céu anil?
Por que, meu Deus, quem, livre, o espaço corta
Cai, afinal, estatelada e morta
No chão de um mundo escravisante e vil?!”
O soneto acima, intitulado “Por quê” e do qual focalizamos os tercetos finais, é uma das inúmeras jóias de sentimentos, integrada numa coletânea de 20 e tantos poemas. Como se vê, descreve a morte de uma rolinha.
Identificado com os puros sentimentos de asceta, o nosso aedo segue o exemplo de J. G. de Araújo Jorge, que afirma:
“Não me envergonho nunca de falar de amor!”
E ama. E vibra. E sofre. E cumpre, de cabeça erguida, a sua Missão de verdadeiro estóico em face à realidade áspera do cotidiano.
Nessa qualidade de adaptação tão própria dos privilegiados, buscando sempre uma fórmula nova para suavizar as saudades do passado, o nosso vate canta a sua Atibáia, a sua nova cidade que é Campinas, com sua natureza prodigiosa, com suas revoadas de andorinhas.
Alguns leves deslizes técnicos que se fazem notar no decorrer da leitura, a insegurança, por vezes, no manejo com a lira, são sobrepujados, e de uma forma surpreendente, pela constante que é o sentimento, a sensibilidade, e, sobretudo a sinceridade que emana de suas estrofes.
Antônio Lycério nasceu Poeta. É o essencial, o importante.
V ive de mãos dadas com a saudade e a realidade da vida que o fazem dizer belezas como estas:
Distante está meu pensamento. É dia
do meu aniversário. Neste instante,
em meio ao meu trabalho fatigante,
vou rabiscando, à toa, esta poesia!...
Distante está meu pensamento agora,
numa cidade alegre, alvissareira,
onde avistei a luz do sol primeira,
onde, talvez, minha mãezinha chora,
a relembrar, tristonha, os tempos idos,
anos felizes, muito bem vividos,
unida aos filhos para orientá-los.
A vida é mesmo assim, minha velhinha,
indiferente a tudo ela caminha,
unindo seres para separá-los.
É a revolta do poeta, dentro do seu próprio aniversário. É o recalque intempestivo de quem muito ama. É próprio aos que possuem um sétimo sentido do mundo.
Antônio Lycério Pompeo de Barros promete-nos um livro para, muito breve. Cremos nós que não decepcionará, pois é o eleito das Musas. E isso é raro nos dias que correm.
Newton Alfredo
[1] “Crônica literária” assinada pelo jornalista e poeta Newton Alfredo, publicada na TRIBUNA LIBERAL, de Cuiabá, em 30 de agosto de 1964.