Pecado original
Prólogo:
Ao nascermos, é a primavera que eclode em seus perfumes e cores. Tudo é festa. A pele é viçosa. Cabelos e olhos brilham, o sorriso é fácil. Tudo traduz esperança e alegria. Assim é o amor vivenciado entre os que se querem bem e se desejam completar. Assim deve ser a intimidade dos amantes na consecução do pecado original.
Queremos ornamentar com flores exóticas nossas flamas eternas que, como faíscas de centelhas azuladas, confundem-se com a essência exalada dos corpos em movimentos, desprendendo, em ondas crescentes, cheiro cítrico e suave de suores, na tentativa inútil de ocuparem o mesmo espaço, no mesmo instante, ao mesmo tempo.
Nessa ocasião os que se querem bem faz ouvidos moucos, cogitações excelsas por se brutalizarem de forma espontânea; dores passadas, provações sofridas, decepções crescentes, desamores enaltecidos, ardilosas maquinações, interesses materiais... tudo é esquecido, pois se encontram absortos pela força grandiosa do essencial pecado original.
No beijo mais íntimo que simboliza ternura, paz e cumplicidade, há um hálito semelhante ao cheiro da terra molhada pela chuva benfazeja, percebido apenas pelos que sentem a proximidade orgástica, no local prazerosamente explorado quando se empolgam e se envolvem na ânsia do pecado original latente, quase sempre, nos seres inferiores ou sublimados pela natureza humana.
A transferência de energia vivificante ocorre no momento exato do encanto acontecido, na conquista recíproca do recôndito relicário, cujo engulho provocado por prazeres adormecidos, nunca dantes sentidos, não minimizam os valores momentaneamente negligenciados na sublimidade da conquista do pecado original.
Vasculham-se os íntimos para encontrar o oásis de água fresca, quando na tepidez do interior dos corpos permanecem quietos na brevidade do instante que gostariam de eternizar.
A natureza emprestou-lhes formas, cores e aromas diversificados, valem-se, apenas, da criatividade para escreverem e praticarem devaneios, os quais são ampliados pela posse almejada dos corpos sequiosos, abstidos, negligenciados pelos parceiros efetivos e presos por contratos sociais inválidos e por isso mesmo desrespeitados no explicável e desejável ato do pecado original.