o fiel amigo

O Fiel Amigo

Eu acho que época boa da vida de qualquer pessoa é quando somos estudantes, pois aprendemos nessa fase muita coisa para o nosso dia-a-dia não só profissionalmente, mas também como ser humano.

Um dia, fui à casa de um padrinho de casamento que teve um acidente sério do qual se salvou por muito pouco de uma fatalidade. Ele era uma pessoa sem igual com um carisma muito grande, bom de papo, alegre e disposto a continuar sempre lutando, independentemente do seu problema. Há muito tempo não o via pessoalmente porque ele morou nos Estados Unidos e o nosso contato era quase nenhum, por isso estava meio difícil o começo do papo com ele. Nessa sua estadia lá, eu sempre perguntava para sua mãe notícias dele e do irmão, que também tinha embarcado na mesma aventura, nunca entendi direito essa mudança, mas as respeitava como uma questão de opinião e cada um tem o seu direito de escolher o que acha melhor para sua vida.

Quando ele já estava aqui no Brasil, aconteceu um acidente muito grave com ele. Me contou que tinha caído da janela do seu quarto que era no 2º andar.

O papo estava meio preso ainda quando me dá uma vontade de ir “na casinha”, banheiro para os mais jovens por ser este um termo mais antigo, o Gláucio então me oferece o banheiro do seu quarto que era todo montado para a nova situação que estava vivendo. O vaso era normal. Pensei duas vezes, mas a minha necessidade era mais forte e fez com que aceitasse o convite. Entrando tranquei a porta por dentro, esse foi o meu erro, não sabia que a porta estava com defeito e o Gláucio não tinha me avisado sobre isso. Acabando de jogar fora o que estava em excesso no meu corpo, dirigi-me até a porta, que era de correr, para sair do recinto em que estava, acontecendo aí o meu problema, pois a porta estava com defeito e não consegui abrir. O Gláucio estava impossibilitado de se locomover, ouvia meus chamados para a explicação de como abri a porta, mas não respondia nada e ouvia ele pedindo ajuda para alguém da casa, mas só que nessa hora não tinha ninguém em casa a não ser nós dois. Fiquei preso ali uns dez minutos.

Nesse intervalo de tempo vi como a minha vida era maravilhosa e comecei a dar mais valor na minha saúde da qual, graças a Deus, não tenho o que reclamar. Chegando Seu João, pai do Gláucio, muito jeitoso conseguiu, com ajuda de uma chave de fenda pelo lado de fora, dar uma pequena levantada na porta possibilitando a minha saída. Isso foi uma descontração muito grande por minha parte e do Gláucio também. A partir daí a prosa correu solta e começamos a nos lembrar dos tempos em que éramos colegas de faculdade e mais do que isso, o quanto ele era o meu amigo.

Nesse tempo de convívio, nunca tivemos atritos e somente lembranças de um passado recheado de coisas boas e divertidas. Ele era o autêntico mineirinho “come quieto” e eu era o articulador das diversas situações em que vivíamos.

Temos casos de todos os tipos além daquele fusca azul 1300 que era nosso eterno aliado na rotina dos nossos dias e noites de farra como dizem: “se aquele fusquinha falasse” ganharia um prêmio das histórias vividas com ele. Por exemplo, o de uma casa de uma sobrinha do ex-prefeito de Belo Horizonte que conheci num curso de turismo que fiz e tornei-me amigo da menina durante o curso quando fizemos uma viagem para conhecer algumas cidades históricas de Minas Gerais.

Fui convidado para o aniversário da Claudia, que era a sobrinha de um ex-prefeito de Belo Horizonte que eu já conhecia através do meu pai, funcionário graduado da prefeitura e como eu era o acompanhante de pai nas diversas comemorações da prefeitura, tive o prazer de conhecer pessoalmente o tio de Claudia. Nessa época a encantadora mulher morava num bairro nobre de Belo Horizonte. Comentei com o Gláucio desse convite e pedi para que me acompanhasse nessa nova jornada, ele aceitou na hora, pois queria viver tudo o que tinha direito. Daí, ficamos pensando num presente bom, bonito e que chamasse a atenção e o mais importante de tudo que fosse barato. Depois de muito pensar, chegamos a conclusão que o melhor presente seria um arranjo de flores. Nessa mesma época, escutei a minha mãe falar para uma amiga que teria comprado orquídeas diretamente de quem as cultivava e por um preço que era irrisório. Na mesma hora indaguei o endereço dessa amiga e eu e meu amigo partimos para adquirir essa maravilha de flor. Ficava no bairro Cruzeiro na rua Minas Novas. Foi ali que achamos uma linda orquídea branca que se fazia presente e conquistando-nos à primeira vista pela sua meiguice e beleza. Concluímos que tínhamos achado o que tanto estávamos procurando. Aí o Gláucio me deu a idéia de que seria mais fino mandar entregar o belo presente na casa da aniversariante. Então nos dirigimos até a uma floricultura conceituada em Belo Horizonte onde pagamos para ser feito o embrulho e ser levado a casa da jovem.

De noite me dirigi para a casa do amigo e ir a tal festa. Ele ponderou que teríamos de passar primeiro no Clube dos Oficiais onde sua mãe estaria em outra festa e gostaria de apresentá-lo a várias pessoas amigas. Cumprido o que já tinha sido determinado pela sua mãe embarcamos noutra aventura, até certo ponto diferente para nós, mas éramos daqueles que “estamos na chuva é para molhar mesmo”.

Toquei a campainha, que se fez ressoar dentro da casa, e veio à anfitriã da festa, numa elegância que há muito tempo não via numa mulher, para nos fazer as honras da casa e agradecendo o demais o presente. Ela chegou a comentar que nunca tinha ganhado uma flor tão linda e com um lindo cartão. Ficamos até envaidecidos com aquelas palavras da linda jovem. O transcorrer da festa foi tranqüilo, mas não ficamos até muito tarde lá, pois tanto eu como Gláucio tivemos um dia daqueles e estávamos muito cansados.

Logo no início do ano letivo, tive uma boa surpresa: a Denisinha filha da dona Beth, casado com o seu Juquinha que é amicíssima da minha mãe, seria minha colega de sala na faculdade. Achei ótima idéia, pois éramos muito ligados um ao outro já há um bom tempo. Depois desta descoberta dei um toque no Gláucio, a respeito do fato, ele já tinha achado a Denise um pedaço de mulher e feito planos como seria a sua nova cantada e eu ria com esta história toda.

Eu, e meu amigo na faculdade estávamos sempre juntos e tivemos outra brilhante idéia: a de fazermos uma viagem para a praia onde ficariam os homens hospedados lá em casa e as mulheres ficariam na casa da paixão do Gláucio da faculdade. Lá para casa fomos eu o Gláucio, o Mário, o Ricardo e o Duarte e para a casa da Denise foram a Ivana, a sua prima Mônica e a Luzia.

Na nossa primeira estadia em São Francisco o passeio foi muito bom e o Gláucio já se enrabichava com a Denise, mas muito discreto ninguém percebia nada, só eu, pois conversávamos muito, ele sabia das minhas coisas e vice-versa. O Duarte já estava namorando a Ivana. A Luzia já tinha um caso com o Ricardo. Sobrávamos nessa história eu o Mário e a Mônica.

O Mário era do tipo doidão, eu nem sei quem o convidou, mas apesar de ser meio doido, era uma boa pessoa. O Ricardo namorado da Luzia, poderia ser descrito como o belo burro, um cara totalmente alheio a tudo que o cercava, ligado apenas nas suas conquistas amorosas e a Luzia era a sua mais nova gata. O Ricardo, na década de oitenta confundiu o sindicalista Lula, que hoje é o nosso presidente, com um ponta esquerda que jogou no Fluminense e no Internacional na década de setenta. Por aí dava para se ver o nível do rapaz, mas também era boa pessoa, isso se a conversa fosse num nível mais trivial. Estava me esquecendo da bela Moniquinha, prima da Ivana, que tinha perdido o pai há pouco tempo e estava muito triste com aquela situação que vivia. Ela fazia o primeiro ano de medicina e tinha um bom papo nos seus momentos de paz interior.

O seu Juquinha, pai da Denise, é uma ótima pessoa e fácil de se relacionar com ele. Passávamos a noite acordados para ver o sol nascer à beira da praia encostados em alguns barcos de pescadores. Eu abraçava a doce Moniquinha por causa do frio que ela sentia e ela me pedia para tentar esquentá-la um pouco e era isso que queria fazer e o fazia sem contestar, pois era uma bela gata de dezoito anos.

Esses quatros dias que passamos ali foram marcados por momentos deliciosos, pois descobríamos as particularidades de cada um, o que nos ajudaria no nosso relacionamento que daquela data para frente tornava-se mais harmonioso.

Num desses dias em que estávamos lá em São Francisco, o pai da Denise disse para todos nós irmos à sua casa, na parte da tarde, para comermos uma deliciosa polenta preparada por ele. Na hora todos aceitaram o convite e minutos depois nos falou que faria esta tal polenta no mesmo dia e já comecei a ver no rosto do amigo e do Mário um olhar atravessado, mas fiquei quieto. Eu, sendo filho de quem era, não tinha jeito para falar que não e ainda mais sendo na casa do Sr Juquinha.

O grupo começou a se dividir e só ficando eu, a Ivana, o Duarte, a Luzia e a Mônica. O amigo, o Mário e o Ricardo não quiseram ir até lá, adivinhando que não seria grande coisa a tal polenta e tivemos que comê-la e aparentar que estávamos gostando muito e fazendo uma cara boa para o anfitrião. Logo que cheguei em casa tomei um copo de sal de frutas, pois não estava me sentindo bem e deveria ser por causa do prato que havia comido momentos atrás e já começava a fazer efeito.

Ao chegamos aqui em Belo Horizonte saímos algumas vezes, mas com o decorrer do tempo o grupo foi se desfazendo ficando somente eu e o Amigo e a sua paquera discreta com a Denise.

Como já comentei aqui, a sala era sortida do sexo feminino, mas tinha uma que me chamava mais atenção e esse caso não tinha comentado com o Gláucio, pois sabendo que ele não dava moleza e que era gavião, eu tinha medo dele espantar minha presa que eu estava levando com o maior jeito, ainda bem que ele também não percebeu essa gata.

Achava lindo nela um tique que ela tinha em determinadas situações quando estava com alguma dificuldade por qualquer motivo e sei disso porque ficava o tempo inteiro de olho nela e observava tudo aquilo que fazia com muita atenção. Ela consertava os óculos que usava e coçava o nariz quando estava mais agitada, mas eram movimentos graciosos e por tão pouco tempo que ninguém da sala tinha percebido isso.

Tomei coragem e num determinado dia convidei a bela Claudia para sairmos e pedi para ela chamar uma amiga para o amigo, pois eu não gostava de dirigir e ele adorava andar sobre quatro rodas. Então ficou acertado com a Claudia esse encontro que foi marcado para uma sexta-feira, me lembro bem do dia, foi 23 de maio de 1980. Encontrei-me com o Gláucio por volta das 21h e 45min para buscar a Claudia e a sua amiga que se chamava Dolores. As duas trabalhavam juntas numa faculdade aqui, no período das 14h até 22h na secretaria da escola.

Naquele dia o tempo não passava, parecia que era a primeira vez que sairia com uma linda mulher. Ouço o repique do sino da igreja que era perto de onde elas trabalhavam. Estava marcando vinte e duas horas e com isso eu sentia a minha pressão subir e tentava me controlar naquela situação. O amigo era só tranqüilidade como sempre. Queria ser como ele, dono daquela paz interior independente da situação, acho que é por causa do meio, pois na sua casa todos são de bem com a vida e por serem uma família pequena, é só mais um irmão, o pai e a mãe, não existe muita confusão, ao contrário lá de casa, que é um batalhão de gente de todo tipo.

Conversei, no dia anterior, com meu irmão mais velho, ele me indicou uma boate, no centro de Belo Horizonte na rua Tamoios, numero 200 no 24º andar, era um lugar que só freqüentavam casais, com música suave, aquelas canções que fazem bem ao ouvidos e ao coração. Sentamos perto da janela para apanharmos um pouco de ar fresco, pois a noite estava convidativa para qualquer coisa que estivéssemos a fim de fazer, começamos a fazer nosso pedido ao garçom e as mulheres falaram primeiro o que gostariam de tomar. As duas pediram “campari” eu, e o Amigo solicitamos suco de laranja, pois não bebíamos nada de álcool porque tomávamos remédios. Aproveitamos bem o lugar para divertimos e jogarmos conversa fora até trocamos alguns passos na pista de dança. Eu sou meio sem jeito para isso, mas a minha bonequinha nem se importou com o fato.

Nós quatro resolvemos e fomos dar uma volta na cidade de carro para podermos ficar mais tranqüilos. Subimos para o alto da avenida Afonso Pena de onde se tem uma vista muito bonita de Belo Horizonte. Lá em cima mesmo paramos o carro, para aproveitarmos a beleza do lugar e trocamos alguns carinhos. Sentia já ali que Claudia era uma senhora mulher, pela espontaneidade dos seus carinhos e gostava de ser tocada também. O amigo estava numa situação parecida com a minha, no entanto não ficamos muito tempo ali, pois as meninas também estavam cansadas elas tinham trabalhado oito horas, a Claudia, na parte da manhã, ainda compareceu à faculdade. Entendendo a situação, falei para o amigo para retornarmos para a casa, deixando as meninas na residência da Claudia e ele concordou de imediato. Deixando as duas feras em casa voltamos para a casa do Amigo onde passei a noite. No quarto lhe pedi sigilo sobre a Claudia porque não sabíamos no que ia dar aquele nosso encontro daquela noite. Eu e o amigo dormimos embalados pela fragrância que se tinha exalado das nossas meninas muito especiais naquela noite.

Passou o sábado e o domingo também. Nenhum telefonema de Claudia para mim. A decepção começava a tomar conta dos meus pensamentos. Vinham à minha cabeça as mais diferentes opiniões do ocorrido, mas não dei o braço a torcer, naquele instante me mantenho calado também.

Durante a semana inteira o silêncio se fez presente entre nós.

Na sexta-feira seguinte, me atrevi, e convidei minha doce Claudia para dar mais uma saída. A pergunta saiu meio trêmula, pois o medo de tomar um não era presente no meu peito. O sinal verde saindo de sua boca me encheu de esperança, para mim a noite seria repleta só de amor e ternura. Essa semana mudaríamos o programa, eu a pegaria de táxi em sua casa que é relativamente perto da minha, isso seria no sábado, e a levaria para minha casa, depois retornaria de táxi para sua residência.

Tínhamos uma sala, que foi toda projetada por mim, adequada para ser um estúdio musical. A música era a minha paixão desde cedo. Essa sala foi projetada para ser em cima da garagem, a fim de termos maior liberdade ao chegar e ao sair sem se envolver com o pessoal do resto da casa. Ela era toda carpetada no seu interior, para que o som ficasse mais puro e para diminuir o barulho na parte externa, tinha também um ar condicionado que em tempos de calor era usado para deixar sempre a temperatura amena. A iluminação deixava o lugar mais bonito e o som que tinha ali tinha uma diferença pela sua diversificação de aparelhagem e funções com aquela coleção de long play. Isso tudo fazia com que todos que fossem ali ficassem encantados com o lugar. Para assentarmos tinha espalhado pelo chão algumas almofadas de cores variadas que faziam contraste com o carpete verde musgo e o puf cor de ouro. Na frente tinha uma varanda, caso quiséssemos ficar do lado de fora, para tomar um ar fresco.

Nesta época lá em casa tinha um buffet, que organizava qualquer tipo de festa sem que os donos do evento se preocupassem com nada, pois a minha mãe organizava tudo, exceto o salão e a decoração do lugar.

No sábado pela manhã conversei com Tereza, o braço direito da minha mãe, que eu deveria ir para a sala de som naquele dia e que ela fizesse a gentileza de arrumar para mim uma bandeja com salgados finos e com alguns docinhos feitos no dia além de uma garrafa de refrigerante. Depois que eu lá em cima chegasse, ela daria um prazo de meia hora mais ou menos e colocaria na varanda o que lhe fora pedido. Era só bater na porta e eu saberia que já estaria tudo lá.

Nesse dia amanheceu bonito e ficou assim com o passar das horas, até a noite chegar. Esperei que desse por volta das 19h30min para ir buscar a doce Claudia em casa. Peguei um táxi perto de casa, e indiquei o caminho para o motorista o que não era difícil de achar. Chegando ao portão de sua casa, reparei que havia algumas pessoas na entrada as quais eu não conhecia ainda, mas foram todos eles muito simpáticos e educados comigo. Então pedi a um deles que me fizesse o favor de chamar a Claudia. Na mesma hora o mais novo encheu o peito e deu um urro tão alto que o barulho, acredito eu, até uma distância de uns duzentos metros seria nítido o som emitido pelo jovem garoto. Pelas sombras das árvores que me atrapalhavam a visão via descer uma pessoa, mas não dava para se ver quem era, então fiquei na expectativa de poder ser ela. Neste pequeno intervalo de tempo troquei algumas palavras com quem estava no portão. Nisso um vulto de mulher dividiu com o vão da entrada o lugar, era ela, mais bela do que nunca, pois estava acostumado a vê-la no dia-a-dia e nunca tinha reparado como era bonita, minha doce Claudia. Ela se despediu dos que estavam na porta e entramos no táxi.

Pedi ao motorista para nos levar até o ponto de origem da nossa corrida.

Chegando lá em casa, fomos diretos para sala de som. Ela ficou encantada com tudo, mas num primeiro instante não sabia onde estava, pois não tinha falado que era a minha casa, mas ficou encantada com o lugar e me disse que nunca tinha visto nada igual. Aí falei que era a minha casa e estávamos numa parte dela e isso a deixou mais tranqüila e mais a vontade.

Passou um período e ouço toques na porta, mas a encantadora Claudia não ouviu, pois estava só de ouvidos numa seleção musical e estava com fone de ouvido para escutar melhor a letra da música que estava sendo tocada numa relação que tinha feito para ela. Depois de algum tempo a convidei para comer alguma coisa, ela espantada me perguntou o quê e onde. Aí brinquei que do lado de lá da porta, estava repleta de docinhos e salgados da melhor qualidade com refrigerante a seu dispor e ela respondeu que duvidava. Então lhe pedi para abrir a porta e conferir. Ela relutou, mas a curiosidade feminina falou mais alto nessa hora e foi conferir a estória. Em princípio foi olhar o que tinha dito e quase caiu de costas quando viu a mesa toda preparada. Fartamo-nos das guloseimas, ficamos mais um pouco ali e a levei de volta para casa. O nosso relacionamento parecia que a cada momento se tornava mais forte e duradouro. Aí a perguntei como estava passando a Dolores e ela disse que Dolores tinha ficado apaixonada pelo Gláucio e eu lhe disse que o amigo era “navio sem porto, que atracava em qualquer lugar”, então me perguntou se eu era assim também, mas eu lhe disse que não tinha nada a ver uma coisa com a outra. Então pude perceber que realmente ela estava gostando do nosso relacionamento, pois isso é típico de mulher com ciúmes.

Continuamos com a lei do silêncio com o pessoal da turma, achamos que seria melhor política.

No final da semana seguinte teríamos mais uns dias de folga, por causa de um feriado que não me lembro qual era. E conversando com a Claudia primeiro, depois com o Gláucio e a Denise, ficamos estudando uma nova ida à praia. Sabíamos de antemão que deveria ter algumas mudanças do pessoal que foi a primeira vez, mas como nós quatro achamos genial o passeio, gostaríamos de tornar a fazer aquela gostosa aventura.

Nessas idas e vindas na casa do Gláucio, a dona Adir (mãe do Gláucio) chegou de um passeio que tinha feito com várias amigas e trouxe para os seus meninos do coração duas viseiras interessantes.Elas podiam ser usadas de duas maneiras diferentes, uma como um boné ou abrindo um zíper eles se separam. O engraçadíssimo Ly (irmão do Gláucio), colocou na cabeça a parte que não era a viseira e comentou que era agora judeu já que ficava igualzinho a um. Eu e o amigo tratávamos detalhes da viagem quando entrou no quarto D. Adir pedindo se poderíamos levar o Ly também. Achei uma ótima idéia, pois conhecendo a fera sabíamos que íamos ter motivos para muitas risadas gostosas. Na mesma hora concordei com seu pedido e o colocamos na turma deste passeio. Sem levantar muita suspeita, conversando com a Denise, vi com ela a possibilidade da Claudia também participar dessa viagem, sendo um toque meu, ela concordou de imediato, pois sabia que não levaria qualquer uma para lá. Comuniquei com minha doce namorada que já estava reservado o seu lugar na viagem e ela ficou muito feliz com isso. Até então era segredo o nosso romance.

Numa quarta-feira a noite, nos apresentamos em frente ao Palácio das Artes para o embarque da excursão que era feita pela Albinos Turismo cuja sede era na rua Tupis em frente ao Shopping Cidade. Não sei se ainda existe tal agência em função da perda de um de seus sócios e a falta de dinheiro no mercado que fez com que houvesse uma retraída do consumidor. Apesar de ser fundamental que as pessoas possuírem seus momentos de descanso e eu sei que a “maré não está para peixe”.

Nessa época ela só fretava os ônibus para fazer o transporte dos passageiros, você comprava a ida e a volta no mesmo carro. Isso foi uma coisa que deu tão certo que a agência comprou um lote enorme na área principal de São Francisco e construiu um hotel, para ser alugado durante as temporadas de movimento dos turistas.

Dessa vez foram para casa da minha família o Gláucio, o seu irmão Ly e o Duarte, Com a Denise foi a Claudia, a Ivana a Tereza Cristina e o seu Juquinha pai da Denise. No decorrer do trajeto cada um se assentou onde achava que teria a melhor companhia, para uma viagem que deveria durar umas dez horas em condição normal. Eu dei uma de bobo e sentei perto da Claudia dizendo para todos que ficaria ao seu lado por ser nova no grupo. De longe eu via o Gláucio com aquela cara de riso, pois sabia ele de toda a trama ali envolvida.

Eram por volta de 7:30 da manhã e estávamos na praia. As meninas se dirigiram para a casa da Denise enquanto que a turma dos machões iria lá para casa, já tínhamos combinados com as meninas no ônibus que de manhã não iríamos sair porque estávamos morrendo de sono e que na parte da tarde iríamos encontrá-las, elas também estavam com cara de estarem muito cansadas.

De manhã, no outro dia, eu, o amigo e Ly tivemos a idéia de tomar um banho pela manhã e deixamos o Duarte arrumando a cozinha da casa, pois cada dia era um que arrumava as confusões do café e falamos a ele que estaríamos na praia, antes de ir para a casa das meninas, e foi o que fizemos. A praia nessa época do ano estava deserta. O Ly teve uma idéia, que na hora achei doida, mas que aos poucos, tanto eu como o Gláucio, começamos a apoiar: entrar na água pelados. Relutamos, mas acabamos fazendo isso, deixando nossos calções na beira da água. Começava aí o nosso sufoco, pois não sabíamos o movimento da maré nessa hora. O mar estava muito gostoso e forte nesse dia e as ondas avançavam mais que o habitual. Foi então que uma dessas ondas chegou à praia e carregou nossos calções. Só fomos ver isso na hora em que estávamos saindo da água. Tivemos que voltar para dentro do mar e esperar um tempo até o Duarte ir para a praia para nos ajudar a sair desse mico que estávamos pagando. Essa demora deve ter sido de uns quinze minutos e quando ele tomou conhecimento do que a gente passava, ele rolou no chão de tanto rir com o nosso sufoco. Depois de ter passado a fase do riso, foi lá em casa e buscou os calções para que pudéssemos sair da água e pedimos ao Duarte para não contar esse ocorrido para nenhuma das meninas senão a gozeira seria certa.

Depois, disso tudo passado, fomos para a casa da Denise que já estava preocupada com a nossa demora naquele dia. Ao chegar lá dissemos que estávamos muito cansados do dia anterior e ninguém conseguiu acordar cedo. Nisso eu só via a cara do Duarte querendo dar a maior risada e aquela cara ali me colocava medo dele começar a contar o que havia acontecido de verdade. Indo para a praia a doce Denise, me pede para ter um particular comigo a fim de me contar um problema e fiquei preocupado com isso. Eu era o mais velho da turma e conhecia melhor o pessoal da sua casa. Sua mãe era muito amiga da minha há muito tempo e por isso existia um laço muito grande de amizade entre nós. Denisinha então comentou que estava achando que estava grávida do Gláucio. A situação seria possível de acontecer porque os dois só ficavam agarrados um ao outro e conhecendo o amigo como conheço, não deixaria por menos. Ela me pediu para fazer uma sondagem com seu pai a respeito do assunto para ver a reação dele, eu disse então que logo que chegasse do passeio com a Claudia teria uma conversa com seu pai. Ela aceitou a minha condição.

O amigo era um cara ímpar, pois não me havia tocado sobre isso.

Na parte da tarde a galera foi ao encontro das meninas que já estavam prontas para dar uma circulada na área e fazerem reconhecimento de terreno. No entanto, todos tomaram o maior susto de suas vidas, pois ninguém sabia e não esperava aquela nova situação que estava ocorrendo. Ao chegar perto de Claudia abracei-la docemente e trocamos um gostoso beijo de amor e o “ti ti ti” corria solto.

Nessa história o Ly se perde da gente. Saímos todos a procura do mais jovem aventureiro que estava sentado debaixo de uma grande árvore, com um facão em punho, tomando uma deliciosa água tirada dos cocos da região. Ele estava tão satisfeito ali que ninguém falou nada com ele a não ser tomar um pouco daquela apetitosa água com que ele estava se deliciando.

Eu peguei a minha amada e a levei para conhecer alguma coisa da praia. São Francisco, na minha opinião, nunca teve nada de especial, mas para mim era um lugar especial por ter sido palco de grandes aventuras.

Depois de algum tempo de caminhada com Claudia voltamos para a casa do seu Juquinha. As outras meninas queriam saber como tudo entre nós havia começado e porque não falamos nada para ninguém, então comentamos que achamos melhor deixar rolar o que estava acontecendo com a gente e isso criou nas meninas um certo ciúme. O amigo só ficava no canto com seu irmão morrendo de rir da situação.

Naquele dia não deu para conversar o problema da Denise com o pai dela, pois quando ele tinha saído para comprar alguma coisa para a casa.

No caminho de volta para nossa casa, lá na praia, o Gláucio falou que foi muito interrogado por aquilo que estava acontecendo ali e ele como bom sabonete escorregava direitinho.

No dia seguinte, acordamos cedo, e fomos à casa das meninas, esperamos elas acordarem e tomarem o café da manhã para podermos ir à praia, pois o dia estava convidativo para um banho de mar, até estranhamos. Chegando lá, elas já estavam no portão nos aguardando ansiosas. Eu via nos olhos de Claudia um tom avermelhado de quem deve ter chorado e a indaguei por aquilo ela não me respondia, mas sentia que alguma coisa teria acontecido ali, pois se modificou um pouco comigo e não fiquei sabendo o que tinha acontecido, mas com certeza esse não seria a verdade dos fatos. Diante do que percebi resolvi me calar para não forçar uma situação.

Na manhã do dia seguinte, me dirigi sozinho para a casa da Denise, falando com o pessoal lá de casa que sairia para comprar algumas coisas de que estávamos precisando. O meu semblante nessa hora já estava fechado por causa dos meus problemas pessoais, no entanto eu tinha que encarar uma situação meio complicada, que não me dizia respeito, que era a história da Denise com o Gláucio. Bati palmas na casa da Denise, fiz isso para não acordar a todos que creio estariam dormindo naquela hora. O Seu Juquinha era como eu, gostava de levantar muito cedo, ele veio me atender me convidando para tomar café com ele. Achei o momento ideal para tocar no assunto, pois ele estava com uma cara de estar de bem com a vida então tive a certeza de que a hora era aquela. Sentei-me num banco da copa onde iria ser servido o café da manhã para todas as meninas que estavam ali hospedadas. O tom da minha voz mudou, ficou séria parecendo que fosse fazer um pronunciamento muito importante para ele. Nessa hora Seu Juquinha segurava um ovo para fazer uma gemada para nós; ele estava longe do liquidificador, mas tamanha era a aflição dele que não sei como ele conseguiu estraçalhar o ovo na mão, até mesmo a clara escorria entre seus dedos. Era assim como ele havia ficado com todo aquele suspense feito por mim, pela expressão do meu rosto que não era comum eu mesmo estava achando diferente o meu modo de falar. Mas ao mesmo tempo me pareceu muito engraçada toda aquela situação e soltei uma sonora risada que foi providencial. Com ela a Denise acordou e veio até a copa com um sorriso lindo nos lábios. Aí já fiquei sem entender mais nada, mas por causa disso deu tempo da Denise entrar na copa, desviar o assunto e me confidenciar que tinha chegado a sua menstruação. Ela estava numa alegria ímpar. Isso tirou “um peso das minhas costas” e ao voltar a falar com o seu Juquinha, desviei completamente o assunto. Depois a Denise me agradeceu por falar com pai dela sobre o seu problema dando-me um beijo no rosto em sinal de agradecimento. Voltei para casa e encontrei todos arrumando as coisas para irmos à praia. Chamei o num canto, contei o ocorrido e ele disparou a rir, eu fiquei sem saber o porquê, se era por causa do ovo do seu Juquinha, ou por não ter de encarar D. Adir contando-lhe que seria avó. Já que ela era uma pessoa muito vaidosa e na sua opinião ela estaria ficando velha e pelo que conheço dela, não iria gostar, mas no fundo adoraria ser avó. Eu e o amigo não falamos sobre o fato para mais ninguém do grupo para evitar comentários de uma situação muito particular e “quanto mais se mexe fica pior”,

Os restantes dos dias que estivemos ali simplesmente foram passáveis. Eu sabia que deveria ter ocorrido alguma coisa, mas a doce Claudia, com menos açúcar agora, não me dizia de jeito algum o que acontecia. No dia em que chegamos a Belo Horizonte, ela me pediu no ônibus que eu não a acompanhasse até a sua casa; pois ela pegaria um táxi no ponto final do especial e iria sozinha para sua moradia. Então, questionei-a dessa situação, mas ela só dizia que achava melhor, por enquanto. Resolvi atender seu pedido e antes do final, eu o Gláucio e o Ly descemos do ônibus porque ele passaria perto da casa do amigo.

Fiquei sem saber o que estava acontecendo ali, mas o Gláucio levantou uma hipótese que achei viável: a que as outras meninas poderiam ter inventado um monte de besteiras para Claudia e ela acreditou. Pelo fato de estarmos juntos pouco tempo ela não me conhecia direito então não tinha uma opinião definida a meu respeito. Entreguei nas mãos de Deus e disse que se tivesse de ser minha, seria, e encerrei o assunto com todos que me questionavam sobre ela. Voltei a me unir ao amigo para que pudéssemos armar novos contatos, pois a vida é assim: estamos sempre à procura de uma pessoa que nos preencha e que nos assuma de todas as formas.

Escritordsonhos
Enviado por Escritordsonhos em 29/03/2009
Código do texto: T1512611