POR QUE VOCÊ FOI EMBORA?


 
               Sentei-me, sozinha, à beira do caminho, na esperança que você passasse por aqui... Pacientemente esperei... Ouvi o canto dos pássaros, a melodia das águas, a sinfonia que o silêncio fez para saudar minha solidão... Ouvi tudo atentamente. Silenciosamente.

               Olhando com olhos que não precisava abrir-se para ver o que só dentro de mim havia, deixei que as lágrimas corressem livremente. Deitei-me na relva. Fui engolida pela paz! Mas era uma paz inquietante. De ausência. Falta. Senti-me leve. 

               Mas não de uma leveza que faz flutuar. Levitar. Uma leveza que pesa pelo excesso de falta. Deixei que meus pensamentos voassem até você. Por que você foi embora? Havia entre nós tanta cumplicidade! Falávamos a mesma a língua. Tínhamos uma sintonia quase perfeita. 

               Gostava de ser acordada no meio da noite por você. Ou arrebatada ao meio dia, em pleno trânsito. Em todo lugar ou situação você me possuía. Adorava essa sensação de pertencimento. Por isso não entendo por que, sem nenhum aviso, você me deixou. 

               Desculpa, os avisos vieram, eu que os ignorei. Ou não soube identificá-los. Era tudo tão sem sentido, naquele momento. Hoje percebo que não deveria ter sido indiferente as suas ausências esporádicas e depois tão freqüentes. 

               Mas, como podia imaginar que uma relação tão intensa pudesse acabar assim, sem adeus, sem lágrimas, sem brigas, apenas um vazio imenso e essa vontade de encontrar um novo sentido, um novo caminho, alguma coisa para colocar no seu lugar. Mesmo que essa coisa seja você, renovado, transformado. 

               Não sei viver sem você. Preciso encontrar, urgentemente, um substituto, alguma coisa que preencha esta imensa cratera que se abriu em meu peito depois que você se foi. 

               Por isso estou aqui, na esperança de encontrar a fé que perdi nos dirigentes de minha cidade, meu Estado e meu país. Não sei viver sem acreditar que amanhã o sol vai brilhar mais intensamente. Que a justiça vai reinar. Que o mundo vai ser imensamente melhor... 

               Talvez seja a chuva, ou quem sabe a pressão exercida pelo acúmulo de trabalho, não sei o que é, sei apenas que hoje amanheci assim, sem fé naqueles que dirigem os destinos políticos de meu país... 

               Pode ser que seja porque participei da solenidade de formatura de meu filho no TG e não tenha visto na expressão dos jovens formandos muito entusiasmo em estar ali, a serviço da pátria. 

               Ou ainda porque durante a execução do Hino Nacional quase ninguém cantasse ou respeitasse o momento, preferindo circular de um lado para outro com suas câmeras disparando flashes que registravam aquele momento... Que parecia sem sentido diante de tanto descaso.

               Por favor, volte, não quero perder a esperança em meu país. Estou tão orgulhosa de meu filho “atirador”. Por que logo agora você quer me abandonar? Preciso acreditar que você, a exemplo de mim mesma, está apenas cansado e saiu de férias, mas vai voltar. Quero de volta a minha fé no futuro... 

               Se ela passar por aí, perdida, assustada, por favor ensinem o caminho de volta! Sem ela, nada aqui faz sentido. O hoje, que se construiu ontem, precisa acreditar no amanhã para ser mais bonito e feliz!


* Omar, Saulo e eu.



Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 29/03/2009
Reeditado em 29/03/2009
Código do texto: T1512274
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