Os Cegos de Oeiras
Os Cegos de Oeiras
Waldemar, de Oeiras, Piauí, perambula pela cidade livremente, sem bengala para se guiar e desprovido de qualquer sinalização para advertir os incautos, acerca da sua condição de deficiente visual. Todos o conhecem e a sorte anda a seu lado, para o caso de um forasteiro desavisado. Todos o respeitam. Ao vê-lo caminhando, na calçada ou na rua, indo de um lugar para o outro, sabendo exatamente onde está, entrando num bar para pedir um refrigerante ou se dirigindo para a barraca de sua preferência na feira, ninguém diz que Waldemar é cego.
Maurício, da mesma cidade, é artesão multidisciplinar, misto de marceneiro e serralheiro, além das esculturas em madeira e de outros objetos de decoração, faz móveis, janelas e portões. Ele mesmo desenvolveu as máquinas da sua oficina, que longe de ser uma biboca é ampla, asseada e extremamente organizada. Quando lhe dá na telha, Maurício sobe no telhado e conserta o que é necessário. Ao vê-lo lá em cima, os passantes troçam: desce daí, Maurício, você vai cair. O pai, marido e avô artesão, fornecedor de portas e janelas de toda uma região há longos anos, replica: e daí? O chão não é furado.
Waldemar toca violão, compõe e canta, usando da mesma técnica do “ao quadrado” Stanley Jordan e do “ao cubo” Chico Gomes – como se o violão fosse um piano. Suas músicas tem uma característica própria, mesclando rap, sertanejo, forró, boas de se ouvir. Waldemar tem duas mulas, uma ele avisa que é sem vergonha, utilizada para transporte nas cercanias de sua residência. Quando carece ir ao centro, pega a outra, solta num pasto próximo, cheio de mulas. Como ele as diferencia? A dele tem um sino.
Quando lhe perguntam como é que ele se desloca com essa desenvoltura toda, como é que sabe sempre onde está, ele simplesmente responde: eu sinto.