A DANÇA DAS CADEIRAS-(EDUCAÇÃO)
A DANÇA DAS CADEIRAS NA EDUCAÇÃO
Década de 80.
Dona Vera, mãe de Joãozinho, recebe a notícia que a escola do seu filho passará por uma grande reorganização. Após uma minuciosa análise, foi constatado que o grande problema da educação da pequena cidade Escorrega Mais Um, estava não só no método usado, mas também nas escolas; por isso o Toinho administrador decidiu que implantaria os ciclos como método, conhecido também como Progressão Continuada e reorganizaria as escolas, ou seja, ciclo I de um lado e ciclo II do outro. Não foi só a mãe do Joãozinho que ficou confusa. Em toda cidade não se ouvia falar em outra coisa. Para a pequena Escorrega Mais Um, a notícia caiu como uma bomba. D. Matilde, professora do Joãozinho, que até então nem bem estava adaptada às últimas mudanças, entrou em choque. O mais feliz com a novidade era o Joãozinho, pois logo ficou sabendo que com o novo método, não havia mais repetência. O futebol de domingo foi logo adiado para segunda- feira, pois uma faltinha de vez em quando não ia fazer mal a ninguém. A esta altura a professora estava arrancando os cabelos, afinal, como iria conseguir controlar seus alunos depois de tamanho absurdo!
Grupos organizados pela professora começaram a fazer passeatas, fazer panelaços, acampar nos prédios públicos e tudo que é barulho possível. Mas o administrador da pequena cidade de Escorrega Mais Um, não se comovia e estava decidido que tinha encontrado a solução. Cidades como, Terra do Nunca, Sucupira, Cafundó, País das Maravilhas, das Águas claras, Oz e muitas outras, resolveram copiar o mesmo projeto. Parecia febre. Com o passar do tempo, as coisas foram se acalmando, na economia de Escorrega Mais Um, porém nas escolas as coisas iam de mal a pior. Joãozinho concluiu o primeiro ciclo e foi obrigado mudar para uma escola bem mais distante de sua casa. Sua mãe tinha que levá-lo e buscá-lo todos os dias. É óbvio que andava um pouco assustada, pois a Gazeta Escorrega não parava de anunciar notícias de violência nas escolas,depredação, invasão. Algumas medidas foram implantadas, como: tranca nas portas, muralhas, grades, câmeras, guardas, detector de metais, etc.
Já em meados dos anos 90, muitas medidas foram tomadas. Toinho administrador buscava apoio nos quatro cantos de Escorrega. Fez uma verdadeira dança das cadeiras. Escolheu um jovem bonito, bem apessoado, inteligente, autor de centenas de livros, rapaz de boa fé. Dona Vera e Dona Matilde receberam bem a notícia, gente nova sempre tem ideias inovadoras. Realmente, muitas coisas começaram a chegar à escola: computador, internet, palestras bonitas, projetos para atender a comunidade na escola, cursos, contudo, Dona Matilde, engana-se, continuava insatisfeita, mesmo com todas as inovações continuava sem receber um centavo de aumento de salário, o computador não a libertava do velho mimeógrafo, e os cursos de formação oferecidos nunca podia frequentar devida a carga horária excessiva de trabalho.
Diante de tantas reclamações, mais uma vez recomeça a dança das cadeiras. Em meio à tormenta que arrolava em Escorrega, o Administrador Toinho resolve que os pais deviam participar mais da educação de seus filhos e para isso decide que o velho boletim escolar é uma ótima maneira dos pais acompanharem as notas bimestrais. A mãe de Joãozinho ficou muito feliz, era só acessar a internet e ver aquela notinha vermelha que seu filho caçula havia escondido! Ah! Sua alegria durou pouco, pois logo descobriu que não tinha computador. Mas não era o fim, a professora Matilde iria imprimir na escola e entregar o boletim do primeiro bimestre para todos os alunos. E assim fez. No segundo bimestre a mesma coisa, estava funcionando. Mas, para a tristeza da professora os demais não foram possíveis entregar, a impressora da escola não tinha tonner e no quarto bimestre o administrador Toinho não disponibilizou.
Bom, esqueçamos o boletim, afinal estávamos entrando no século XXI, novas mudanças estavam a caminho. Toinho agora tinha ao seu lado uma pessoa muito competente. A sua competência logo a fez enxergar que estava tudo errado. Teria que reformular tudo, pensou em mudar os ciclos, avaliação externa também não estava dando certo, os professores precisavam de formação, é preciso entender que a escola tem muito “pobre” não se deve esperar muito, falavam. Põe todos para estudar. A professora Matilde tem que fazer curso, fazer reciclagem, alunos devem participar de reforço. O povo da pacata Escorrega Mais Um já nem interfere mais, deixa rolar, abandonam as passeatas, panelaços, etc. A professora Matilde é avaliada para continuar dando aulas, afinal depois de vinte anos de trabalho parece que se esqueceu de como trabalhar, seus alunos agora só tiram notas vermelhas, estão mais indisciplinados, chegam à série seguinte sem ler. Infelizmente, com tanta pressão e tantas mudanças a coitada foi muito mal na “prova”, não consegue a média. Um prato cheio para a Gazeta Escorrega. Foi manchete: “Professora que tirou zero na prova continua dando aula”. A mãe de Joãozinho não queria acreditar, a vida inteira ela acreditou na professora de seus filhos, seus três primeiros filhos, atualmente vivendo e advogando na capital, foram seus alunos, que decepção! A professora teve que engolir mais essa, continuou seu trabalho na medida do possível. O Toinho administrador decide que enviará o modelo de aula, agora a professora Matilde só terá que seguir o modelo. Nem foi preciso caprichar muito no tal modelo, afinal a professora não foi bem na prova, na escola só tem pobres, nem vão perceber uns errinhos aqui, outros ali! Seguindo o exemplo da reforma da língua portuguesa, aproveitou para fazer umas pequenas mudanças na geografia e na história, mudou um paizinho pra lá, outro pra cá, tirou alguns, mudou algumas datas insignificantes, alguns errinhos de inglês, nada que altere a ordem dos fatores. Como prêmio de consolação, para que a professora Matilde não continue reclamando de suas ideias inovadoras, ele resolve também premiar os “melhores” professores com uma quantia em dinheiro. A professora até que ficou feliz, mesmo recebendo menos que seus colegas, chegou em boa hora, afinal ficou o ano todo sobrevivendo com o limite do cheque especial, um dinheirinho extra será bem vindo! Mas, como na pequena Escorrega Mais Um, nada dura por muito tempo, logo iniciará a nova dança das cadeiras. Afinal, a inovadora equipe do Administrador Toinho não se cansa de ter ideias mirabolantes que a cada ano põe a pequena Escorrega em primeiro lugar em deseducação brasileira. A novidade agora é passar na prova para ter aumento salarial. Piso salarial pra quê?
A DANÇA DAS CADEIRAS NA EDUCAÇÃO
Década de 80.
Dona Vera, mãe de Joãozinho, recebe a notícia que a escola do seu filho passará por uma grande reorganização. Após uma minuciosa análise, foi constatado que o grande problema da educação da pequena cidade Escorrega Mais Um, estava não só no método usado, mas também nas escolas; por isso o Toinho administrador decidiu que implantaria os ciclos como método, conhecido também como Progressão Continuada e reorganizaria as escolas, ou seja, ciclo I de um lado e ciclo II do outro. Não foi só a mãe do Joãozinho que ficou confusa. Em toda cidade não se ouvia falar em outra coisa. Para a pequena Escorrega Mais Um, a notícia caiu como uma bomba. D. Matilde, professora do Joãozinho, que até então nem bem estava adaptada às últimas mudanças, entrou em choque. O mais feliz com a novidade era o Joãozinho, pois logo ficou sabendo que com o novo método, não havia mais repetência. O futebol de domingo foi logo adiado para segunda- feira, pois uma faltinha de vez em quando não ia fazer mal a ninguém. A esta altura a professora estava arrancando os cabelos, afinal, como iria conseguir controlar seus alunos depois de tamanho absurdo!
Grupos organizados pela professora começaram a fazer passeatas, fazer panelaços, acampar nos prédios públicos e tudo que é barulho possível. Mas o administrador da pequena cidade de Escorrega Mais Um, não se comovia e estava decidido que tinha encontrado a solução. Cidades como, Terra do Nunca, Sucupira, Cafundó, País das Maravilhas, das Águas claras, Oz e muitas outras, resolveram copiar o mesmo projeto. Parecia febre. Com o passar do tempo, as coisas foram se acalmando, na economia de Escorrega Mais Um, porém nas escolas as coisas iam de mal a pior. Joãozinho concluiu o primeiro ciclo e foi obrigado mudar para uma escola bem mais distante de sua casa. Sua mãe tinha que levá-lo e buscá-lo todos os dias. É óbvio que andava um pouco assustada, pois a Gazeta Escorrega não parava de anunciar notícias de violência nas escolas,depredação, invasão. Algumas medidas foram implantadas, como: tranca nas portas, muralhas, grades, câmeras, guardas, detector de metais, etc.
Já em meados dos anos 90, muitas medidas foram tomadas. Toinho administrador buscava apoio nos quatro cantos de Escorrega. Fez uma verdadeira dança das cadeiras. Escolheu um jovem bonito, bem apessoado, inteligente, autor de centenas de livros, rapaz de boa fé. Dona Vera e Dona Matilde receberam bem a notícia, gente nova sempre tem ideias inovadoras. Realmente, muitas coisas começaram a chegar à escola: computador, internet, palestras bonitas, projetos para atender a comunidade na escola, cursos, contudo, Dona Matilde, engana-se, continuava insatisfeita, mesmo com todas as inovações continuava sem receber um centavo de aumento de salário, o computador não a libertava do velho mimeógrafo, e os cursos de formação oferecidos nunca podia frequentar devida a carga horária excessiva de trabalho.
Diante de tantas reclamações, mais uma vez recomeça a dança das cadeiras. Em meio à tormenta que arrolava em Escorrega, o Administrador Toinho resolve que os pais deviam participar mais da educação de seus filhos e para isso decide que o velho boletim escolar é uma ótima maneira dos pais acompanharem as notas bimestrais. A mãe de Joãozinho ficou muito feliz, era só acessar a internet e ver aquela notinha vermelha que seu filho caçula havia escondido! Ah! Sua alegria durou pouco, pois logo descobriu que não tinha computador. Mas não era o fim, a professora Matilde iria imprimir na escola e entregar o boletim do primeiro bimestre para todos os alunos. E assim fez. No segundo bimestre a mesma coisa, estava funcionando. Mas, para a tristeza da professora os demais não foram possíveis entregar, a impressora da escola não tinha tonner e no quarto bimestre o administrador Toinho não disponibilizou.
Bom, esqueçamos o boletim, afinal estávamos entrando no século XXI, novas mudanças estavam a caminho. Toinho agora tinha ao seu lado uma pessoa muito competente. A sua competência logo a fez enxergar que estava tudo errado. Teria que reformular tudo, pensou em mudar os ciclos, avaliação externa também não estava dando certo, os professores precisavam de formação, é preciso entender que a escola tem muito “pobre” não se deve esperar muito, falavam. Põe todos para estudar. A professora Matilde tem que fazer curso, fazer reciclagem, alunos devem participar de reforço. O povo da pacata Escorrega Mais Um já nem interfere mais, deixa rolar, abandonam as passeatas, panelaços, etc. A professora Matilde é avaliada para continuar dando aulas, afinal depois de vinte anos de trabalho parece que se esqueceu de como trabalhar, seus alunos agora só tiram notas vermelhas, estão mais indisciplinados, chegam à série seguinte sem ler. Infelizmente, com tanta pressão e tantas mudanças a coitada foi muito mal na “prova”, não consegue a média. Um prato cheio para a Gazeta Escorrega. Foi manchete: “Professora que tirou zero na prova continua dando aula”. A mãe de Joãozinho não queria acreditar, a vida inteira ela acreditou na professora de seus filhos, seus três primeiros filhos, atualmente vivendo e advogando na capital, foram seus alunos, que decepção! A professora teve que engolir mais essa, continuou seu trabalho na medida do possível. O Toinho administrador decide que enviará o modelo de aula, agora a professora Matilde só terá que seguir o modelo. Nem foi preciso caprichar muito no tal modelo, afinal a professora não foi bem na prova, na escola só tem pobres, nem vão perceber uns errinhos aqui, outros ali! Seguindo o exemplo da reforma da língua portuguesa, aproveitou para fazer umas pequenas mudanças na geografia e na história, mudou um paizinho pra lá, outro pra cá, tirou alguns, mudou algumas datas insignificantes, alguns errinhos de inglês, nada que altere a ordem dos fatores. Como prêmio de consolação, para que a professora Matilde não continue reclamando de suas ideias inovadoras, ele resolve também premiar os “melhores” professores com uma quantia em dinheiro. A professora até que ficou feliz, mesmo recebendo menos que seus colegas, chegou em boa hora, afinal ficou o ano todo sobrevivendo com o limite do cheque especial, um dinheirinho extra será bem vindo! Mas, como na pequena Escorrega Mais Um, nada dura por muito tempo, logo iniciará a nova dança das cadeiras. Afinal, a inovadora equipe do Administrador Toinho não se cansa de ter ideias mirabolantes que a cada ano põe a pequena Escorrega em primeiro lugar em deseducação brasileira. A novidade agora é passar na prova para ter aumento salarial. Piso salarial pra quê?