Cinco Anos

- Papai você me ama?
Já havia observado que apartir de certo tempo havia iniciado alguns interrogatórios logo que chegava a casa, à noitinha.
- Lógico que te amo. Te amo muito. Demais mesmo. Você é meu filho.
- Do tamanho de um trem?
Estranhei aquela colocação, mas rapidamente entendi.
- Bem maior. Do tamanho do universo.
- Que tamanho é o universo?
- Hum. Muito grande. A gente nem consegue medir. Eu amo você mais que o tamanho do universo.
- Pai quando eu crescer também quero ser engenheiro.
Percebi que meu Gabriel não era mais aquele menino que não conseguia ordenar as idéias, estava ficando muito curioso e inteligente, e que teria que lhe dar boas e claras respostas aos seus questionamentos.
- Isso é muito bom. Mas você terá que estudar bastante. Por isso tem que fazer lição e obedecer a professora.
- Quando eu crescer vou cuidar de você e da mamãe. Quando você estiver velhinho e pequenino do meu tamanho.
Ele achara que conforme envelhecemos diminuímos. Aquela frase por algum instante me emocionou, meu bebê que há poucos dias estávamos trocando às fraldas, dizendo querer cuidar de nós.
- Que bom. Quando papai estiver velhinho, você terá muita força e cuidará de nós.
- O senhor me dá um cachorrinho?
- A mamãe já disse que não pode. A gente mora em apartamento e ele faz muito barulho.
- Ah tá.
Silenciou como se pensasse no cachorrinho latindo dentro de casa.
- Ô pai. Eu morava na barriga da minha mamãe?
Disse olhando uma foto na estante em que o peguei no colo pela primeira vez dentro da maternidade. Continuou.
- Quando eu era bebezinho você me pegou no colo... Como faz para entrar na barriga da mamãe?
Não achei que aos cinco anos haveria curiosidade em querer saber de como entrara na barriga da mãe, mesmo assim tentei responder da forma que veio à mente no instante.
- Papai e mamãe casaram-se e então a gente dormiu abraçadinho e você entrou na barriguinha dela. Quando você crescer também vai casar-se com uma menina e também vai ter um filhinho.
Achei ter respondido satisfatoriamente suas indagações e novamente pôs-se a divagar sobre o que eu havia lhe dito.
- Pai eu vou ter que trabalhar pra comprar comidinha para meu filhinho?
- Com certeza. Você vai trabalhar ganhar dinheirinho, aí sim vai comprar comidinha.
- E vou ter que acordar cedinho para ir trabalhar como você?
Mais uma vez ele me surpreendeu com as organizações das idéias com apenas cinco anos de idade. Não titubeei.
- Sim. Vai levantar cedo. Escovar os dentes, tomar café e depois ir trabalhar.
- Ah papai, então não quero crescer, nem casar e nem ter filhinho.
Depois dessa, chamei-o para uma partida de vídeo game. Já não se faz mais filhos como os de antigamente.
Sidrônio Moraes
Enviado por Sidrônio Moraes em 28/03/2009
Reeditado em 17/05/2015
Código do texto: T1511227
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.