Meus livros
Tem vários livros que eu comecei ler e não terminei. Por um motivo ou outro, mesmo que seja legal. Antes isso me dava uma baita dor de consciência, uma sensação de coisa mal feita, literalmente inacabada. Tentava me aliviar dizendo-me: “é a falta de tempo (desculpinha que cola fácil pra qualquer um), qualquer dia eu termino a leitura...” E guardava o livro de volta na estante.
Mas ouvia sempre uma voz dizendo: “seu canalha, ingrato, me pegou, me iludiu, e agora estou aqui à sua disposição e você não me quer mais...”
Como dizem, uma taça meio cheia também está meio vazia. Agora olho a outra parte da taça e explico o que isto tem a ver. Antes, culpava-me por não terminar a leitura de vários livros. Hoje, orgulho-me de tê-los aberto, não importando até onde fui na leitura.
Tenho prazer em ver os livros com marca-páginas espalhados pela casa. Leio vários ao mesmo tempo. Cada um de um tipo, claro. Quando estou inspirado, leio um clássico ou filosofia. Quando estou apaixonado, leio poemas. Cansado, crônicas. Crítico, comentários. Assim, não me cansa a cabeça, pois já trabalho muito com ela.
Quando encontro um livro chato, leio ainda mais devagar por motivos óbvios. Quando acho um legal, leio também devagar com dó de acabar, para degustar cada palavra, como a última garfada do prato predileto.
Acho lindos todos esses livros me fazendo companhia: na cabeceira, na sala, no banheiro, na mesa, na bolsa. Todos eles me seduzem, me assediam: “tá afim? Estou aqui pra você... do jeito que você gosta...” Insinuam-se, competindo para me deliciarem, pois sabem me satisfazer, até que eu pegue um, acaricie, coma com os olhos...
Tenho medo que um dia os livros impressos acabem, e as pessoas só leiam virtualmente. Virtual não é real, não dá pra pegar, apalpar, sentir o gosto.