Este cacto faz parte da minha coleção atual. Lindo, não?

A COLEÇÃO MAIS DIFÍCIL DE SE MANTER...




Antes, lá pelos idos dos sete anos, eu colecionava cactos. Algum tempo depois, por conta dos cartões de Natal que minha família recebia, diga-se de passagem, um número enorme de cartões, pois na época em que fui criança os únicos meios de corresponder-se com o outro eram através de telefones, cartas ou telegramas, embora que telegrama, algumas vezes, era tido como portador de más notícias.

Quando o carteiro trazia um telegrama, a família já ficava com o coração na mão e com lágrimas nos olhos. Era sinal de falecimento ou de algum parente distante chegando para passar um tempo conosco. Então, se fosse luto, todos choravam; se fosse visita, todos se alegravam. Embora que algumas visitas anunciadas me faziam querer chorar...

Passada a febre dos selos, comecei a colecionar botões. Adorava ir até a casa da costureira Maria para voltar com os bolsos cheinhos de lindos botões nos seus mais variados tamanhos e formatos. Esse fascínio pelos botões durou até o dia em que ganhei um chaveiro de com uma pistolinha que atirava com espoleta. Lembro que eu ficava com um papelzinho na mão e dando tirinhos para vê-lo queimar. Foi divertido até meu pai descobrir e tomá-lo de mim quando fiquei queimando as toalhas da mesinha da sala... Aí não teve graça nenhuma.

O negócio foi partir para outra coleção que não me causasse problemas. A bola da vez seriam as pedras. Não fazia acepção de pedras. Servia qualquer pedra. Mas, por eu não ter sido assim tão seleta nas escolhas das pedras, minha casa ficou tão cheia, mas tão cheia que parecia que estava em obras. Então, já viu! Mais uma vez me vi forçada a trocar de coleção...

Cactos, selos, botões, chaveiros, pedras... O que mais eu poderia colecionar? Sabe o que foi? Tampinhas de refrigerantes, de cervejas, de cachaça. É... Aquela cachaça do tatuzinho, eu acho.

Bem, o tempo foi passando e larguei as coleções de objetos para lá. Resolvi colecionar algo que fosse maior, mais forte e que me desse retorno, algo gratificante. Acreditei ter tido uma ideia brilhante!

“-Vou colecionar amigos!” – Pensei.

Por um bom tempo juntava os dedos das mãos e dos pés de amigos. Em colégios, festinhas, reunião de família. Mas, conforme ia crescendo, os amigos eu ia perdendo. Cada um seguia por caminhos distintos e dos vinte amigos, ficamos uns doze, no máximo.

Quanto mais o tempo passava, menos eu tinha... Amigos. Foi então que na dureza da vida, comparando com minhas coleções, vi que de todas elas a mais preciosa e a mais difícil de se manter é a coleção de amigos...

Do meu Segundo Grau até hoje, olhei para trás e para os lados e vi que só restava eu... Eu caminhei sem nenhuma peça da minha mais preciosa coleção...

Bem, mas o que colecionamos com amor e carinho, em dado momento se pode recuperar. Grande foi minha alegria e surpresa que através da minha exposição na internet através do Recanto das Letras, um grande amigo que não via há vinte cinco anos, enviou e-mail numa felicidade de ter me encontrado, ao mesmo tempo receoso da minha receptividade, afinal lá se iam vinte cinco anos!

A preocupação se foi por terra quando eu respondi o e-mail dele. O Marcos Guidi Torquato viu que apesar de tantos anos, sou aquela mesma Dja amiga, alegre, palhaça. O tempo, a distância, a posição social, o mundo não me mudou, nada alterou minha essência.

Eu fui e sou a mesma pessoa com a mesma índole daquela menina que começou com uma simples coleção de cactos...

Marquinhos querido, obrigada por não desistir de mim! Você aparecendo, resgatou uma parte da minha história de vida que foi muito bonita. Você já não é meu amigo, é meu irmão. Amo você!

Um trecho do e-mail:

"Prezada Djanira, certamente vc não se lembra de mim. Meu nome é Marcos Guidi Torquato e estudamos juntos no Colégio Estadual Barão do Rio Branco. Tínhamos em comum os amigos Ednei, Delly, Osimar, Evandro, Rosimery, Rosinéria, Robson etc.
Não precisa forçar a memória, afinal já se vão 25 anos. Resolvi enviar-lhe esta msg após ver um texto no Recanto das Letras, entitulado Aldo Brane. É uma bela história que retrata uma bela família. Fico feliz em saber que está bem. Quanto a mim, tenho uma família maravilhosa: esposa e duas filhas (com 16 e 18 anos). Daquela turma só tenho contato com a Rosemery, que tem duas filhas com idades iguais as minhas. Encontrei o Ednei durante uma seleção para a Casa da Moeda alguns anos atrás; Delly mudou-se para São Paulo há uns 20 anos. Um cunhado meu encontrou o Robson e ele prometeu fazer contato.Infelizmente  Osimar e  Evandro faleceram.
Perdoe-me por incomodá-la, mas não resisti à possibilidade de poder, após tantos anos,  desejar-lhe Boas Festas e Feliz Ano Novo! (...)"


E você aí, coleciona alguma coisa?



Ofereço esta crônica para Léia Batista, por conta de sua poesia é que lembrei-me de fazer a crônica sobre a coleção de cactos.