Menino fujão

Às vezes depois das aulas eu tinha reunião. Meus filhos, coitadinhos, precisavam esperar e ficavam brincando lá no pátio. Sempre havia outras crianças, gatos pingados, aguardando pais retardatários.

Houve um dia em que minha filha não estava e Manu, de seus nove anos, lá ficou a correr com os coleguinhas. Acabada a reunião, um pouco mais demorada, ao descer não o encontrei. Pergunta daqui, pergunta dali, vários funcionários tinham visto o menino. Mas não estava mais ali. Sumiu.

Foi procurado por toda parte: lá atrás das quadras, nos banheiros, nas classes. Faxineiras, secretárias, seguranças, todo mundo ajudou. Vasculhamos a escola de cabo a rabo. Nada.

Quanta coisa me passou pela cabeça! Quem sabe ele pegou um ônibus e se perdeu... Mas não era possível, nem dinheiro tinha... Será que foi a pé? Muito longe, não dava, né? E se algum pai deu carona, alguém sugeriu. Podia até ser...

Por via das dúvidas procurei saber, telefonei. A empregada se assustou. Não... por aqui ainda não chegou...

Desnorteada e aparvalhada, eu não sabia mais o que fazer. Se ia embora ou ficava, pra ver se ele voltava. Foi então que uma secretária pensou que ele podia estar ali por perto, decerto na casa de alguém. Corremos pra ver a lista de endereços, no computador. Que estava lerdo, lerdo...

Nisso o telefone tocou. Boa notícia, a empregada avisando: Manu chegou! Segure ele aí, eu pedi, não deixe ele ir nem lá embaixo!

Quando cheguei em casa ouvi, diante da tv, três crianças às gargalhadas. Emília, minha filha, o irmão fujão e a menina mais levada da sua classe, que bem ao lado da escola morava.

Muito orgulhosos, contaram a façanha. Vieram de metrô. E andaram uns bons quilômetros pra chegar até lá...

Ainda tive que dar uns telefonemas pros pais da menina, que no trabalho, estavam sossegados. Ficamos então acertados que eu só a levaria de volta no dia seguinte, de manhã.