A VERDADE

Ontem, eu e minha esposa conversávamos com um amigo e sua mãe, sobre assuntos bem complexos, que envolviam caráter, especificamente, o caráter desse meu amigo, os temas eram tão delicados que nem sua mãe tinha coragem de falar com clareza, e com as palavras necessárias para que se gerasse o impacto devido e trouxesse à luz da verdade à situação, então, todos à mesa utilizavam-se de uma retórica bem apresentada, com uma sinceridade tão fajuta que dava pena, eu pensava - se nem a mãe dele tem coragem de tratar este assunto eu é que não ia me meter - então ficamos horas e horas perdendo tempo, fomos dormir as 2h da manhã eles saíram da minha casa, o filho chateado com a mãe por que ela tinha falado coisas que o magoaram, sem saber que na verdade a mãe estava mais chateada e decepcionada por não ter dito nada do que ela queria. Eu e minha mulher ainda perdemos mais uma meia hora na cama falando sobre o assunto. Fiquei refletindo sobre o que aconteceu em casa ontem e só vejo uma coisa, nada, na verdade não aconteceu nada, só perdemos tempo não houve mudança de postura, nem choro, nem convencimento, nem pedidos de desculpas, na verdade não ouve nem sinceridade. E lembrei-me de uma passagem na bíblia que diz: “...confessai seus pecados uns aos e outros e orai uns pelos outros para que sareis...”, e pensei: - isto é tão difícil que chega a doer. As pessoas se escondem dentro de si mesmas, navegam entre o que elas são, entre o que elas gostariam de ser, e entre o que as pessoas esperam que elas sejam, e no final acabam perdidas, “me perdi porque eu era labirinto”, esse verso foi tirado de um livro de poemas de presidiários do CEPAIGO, em Goiânia, é tão verdadeiro quanto cruel, o que nos separa desses presidiários e que eles fizeram; o que nós dissemos que faríamos, mas nos faltou coragem. A verdade tem que ser dita! Mas até que ponto podemos dizê-la? E se ela for muito cruel? Devemos porventura enfeita-la com uma retórica e um jogo de palavras agridoce, para transformá-la em algo pelo menos tragável? Mas ai não seria verdade, seria talvez, uma meia verdade!? Que por outro lado é uma meia mentira - se é que existe meias verdades e meias mentiras. O que existe é uma covardia egoísta, porque quando não falamos com sinceridade, quando enfeitamos a verdade com palavras doces, deixamos de servir ao próximo, não nos preocupamos com o que aquela postura pode trazer para a pessoa, ficamos preocupados em não estragar a nossa amizade, pensamos em o que nós poderíamos perder e não o que o outro poderia ganhar. È neste clima de introspecção, e com este pensamento que me despeço. A VERDADE A QUALQUER PREÇO, DOA A QUEM DOER..... DESDE QUE NÃO DOA EM MIM!

RAI TAVARES
Enviado por RAI TAVARES em 27/03/2009
Reeditado em 30/03/2009
Código do texto: T1509221