Perto da estação do metrô

Quase nunca vou para os lados do Jabaquara, mas naquela tarde fui, para uma consulta, numa ruazinha estreita, perto daqueles enormes prédios do Itaú.

Na volta, diante da estação do metrô, não consegui atravessar a avenida de uma só vez. Quando o sinal abriu e os pedestres desceram da ilha, inclusive eu, tive a impressão de que um garoto ali tinha ficado sozinho, talvez atrapalhado com a pressa da mãe, ou com aquela gentarada. Chegando à calçada, olhei para trás. O menino continuava lá, paradinho. Preocupada, achei melhor voltar.

Foi bom, porque ao me aproximar, vi que chorava. Seus dedinhos seguravam com força as alças da mochila presa aos ombros. Vestia o uniforme do Arquidiocesano. Temendo assustá-lo, fui me achegando como quem não quer nada. E comecei a falar. “Sabe, eu tenho um filho um pouco mais novo que você. Está na escola agora. Não fique com medo de mim. Você se perdeu?”

Não, disse ele entre soluços, eu moro aqui perto. Então eu te ajudo a atravessar a rua e você vai pra sua casa, arrisquei. Sabe onde é? Sei, mas não tem ninguém lá! Onde está sua mãe? não pude deixar de perguntar. Aí ele desandou a chorar, mal podia falar, e eu não sabia o que fazer...

Por fim ele se acalmou e a história contou. Todas as tardes, àquela mesma hora, na volta do colégio, a mãe ali o esperava. Mas naquele dia não apareceu.

Sabe o que vamos fazer? Tive uma idéia... Vamos pegar o metrô e voltar pro colégio.

Que alegria! Logo ele enxugou as faces e o rostinho se iluminou! E me acompanhou.

Ao sairmos da estação, na porta da escola, duas mulheres gritavam, histéricas. Mãe e avó falavam ao mesmo tempo. Uma dizia “Que bom, Deus ouviu minhas preces!” E a outra “Qué isso, menino, onde você se enfiou?”

Mãe é mãe...pensei e fui saindo de fininho.