Salvador,
           uma cidade gostosa




            Parabéns à cidade melhor e mais bela cidade do mundo! Amo-te de coração. Qual é o meu lugar preferido? Ela todinha.
                   Fábio Erlon, um baiano.


        1 Acabo de chamar Salvador de gostosa, e entendam como quiserem...
           E o fiz por dois motivos. Primeiro porque não encontrei, nos dicionários da vida, outro adjetivo que melhor definisse seu encantador perfil.
           E segundo porque, chamando-a de gostosa, usei a palavra certa para acariciá-la, no dia do seu aniversário.
        2  Vejo-a, neste instante, como aquele respeitável senhor que se apaixona por uma atraente coroa, após se render, enfeitiçado, aos seus exuberantes dotes físicos.
            Sim, os dotes físicos de Salvador!
            Sobre a Salvador borbulhante, inspiradora, chamejante, canora, trepidante e cheia de axé, tem-se falado a beça.
           Não serei, aqui e agora, mais uma papagaio de repetição.
            É preciso, vez em quando, re-cantar, ainda que numa pobre prosa, a beleza física desta cidade-mulher.
        3 E podem me chamar de libidinoso porque, querendo ameigar esta dengosa capital, busquei um adjetivo - gostosa - de repente por muitos considerado de uma vulgaridade infinita. 
            Fazer o que, meu Senhor do Bonfim?
        4 Avalie, meu prezado, a estonteante lindeza desta cidade, a partir de dois (entre muitos) locais que aqui indico, e me diga se estou blefando: ponha-se, pois, no alto da colina sagrada do Bonfim ou veja o seu pôr-do-sol do patamar da igrejinha de Nossa Senhora de Monte Serrat, na Ponta do Humaitá.
            Ou se preferir, pegue um navio ou um saveiro, e das águas da baia de Todos os Santos, contemple-a, em tarde de sol pleno.
            Terás, meu caro, diante de teus olhos uma deslumbrante vista panorâmica desta mística soterópolis.
        5 E não se faz indispensável viver o dia-a-dia de suas ruas enladeiradas ou frequentar suas praias paradisíacas para dizê-la gostosa.
            É exatamente o que ouço dos turistas que todos os dias a invadem.
            Encontro-os, diariamente, nas ruas estreitas e de calçamento tosco e irregular, do Centro Histórico, embevecidos, e prometendo voltar.
            Acabe-se, de uma vez por todas, com aquela história de que Salvador só vale no carnaval. Não é verdade. Salvador, parceiro, é de todos os dias; de todas as horas.
         6 Vindo do Ceará, aqui cheguei nos primeiros dias de 1958, e aqui fiquei.
            Portanto, mais de meio século em Salvador! 
            Por esta cidade-poema fui recebido - inda me lembro! - com um ardente e acolhedor abraço.
           E, até hoje, ela me permite desfrutar da meiguice dos seus contornos, com a disponibilidade e cumplicidade de uma amante assumida e sem preconceitos. 
           Aqui, escrevi boa parte de minha vida.
           Aqui, me formei e me casei.
           Aqui fiz dois lindos filhos, dois baianos retados.Neles eternizei  o amor e a gratidão que tenho por esta cidade musical, irreverente e... gostosa.
        7 É a cidade de todos os santos. 
Por isto, aqui me sinto rigorosamente protegido.
           E ainda mais protegido quando sei que os que aqui mourejam têm as bênçãos dos Orixás, mesmo que não os visitem, nos seus acolhedores Terreiros.
        8 Aqui tendes, meu caro, a modesta "declaração de amor" deste cearense pai-d´égua a Salvador, que, femininamente, o agasalha há tantas décadas, e que no dia 29 de março completa 460 aninhos! 
        9 E, agora, me deixem sair por aí. 
           Naquela esquina, perto de casa, um acarajé, com vatapá e pimenta, me espera.
           E depois de uma cervejinha gelada, um cochilo, afagado pela brisa que sopra, atrevida e eloquente, do mar da minha Pituba... 
 
         

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 27/03/2009
Reeditado em 11/12/2020
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