É tudo confusão, apenas

Ele não era nenhum Ciro, que chamava pelo nome todos os soldados de seus exércitos; Muito menos um Metrodoro, que professava a arte de repetir com fidelidade o escutado de uma só vez. Longe de ser um Funes. Muito pelo contrário, era um preguiçoso com sua memória, um indolente com suas lembranças. O coitado demorou um ano inteiro para comprar um guarda-chuva. Como se não bastasse, esqueceu-o na igreja, após a referenda comunhão. Com a sorte dos santos e anjos, que ali residiam, ninguém o havia levado, mas agora, essas horas, deve estar voltando para o terminal de ônibus. A única possibilidade de tornar e vê-lo novamente é caso uma boa alma reconheça o guarda-chuva (mais impossível do que alguém devolver) e entregue ao desmemoriado. Graças a esse infortúnio, ele aprendeu que não se deve ler enquanto estiver com o seu guarda-chuva tamanho GG no ônibus; Para previnir, agora ele amarra uma cordinha, amarrada em sua cintura, com uma etiqueta, assim como aquelas que se colocavam nos cadernos, para que se alguma alma encontrar possa devolver.

Não lembrar das coisas é normal. Confundir então é muito mais comum. Vamos pensar que Cabral confundiu o caminho até as Índias, que os aviões confundiram o Word Trade Center com outro prédio qualquer. Que Judas se esqueceu que não podia avisar onde Jesus estaria, que o povo brasileiro confundiu os números na cabine eleitoral, e que os professores apenas confundiram o Paraguai com Uruguai. Nada demais nisso, esquecer é natural. Confundir então, nem se fala.

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 26/03/2009
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