69 tipos de orgasmos

Viajando por velhas e cansadas estradas do interior de Minas Gerais, ora fugindo dos buracos, ora escondendo dos inúmeros perigos. Ainda assim me deparava, vez por outra, com as belezas naturais do Estado. Árvores frondosas e verdejantes descortinavam a exuberância das matas nativas. Foi nesse deslumbre que descobri na traseira de um debulhado caminhão bem à minha frente, uma frase no mínimo instigante.

O veículo estava caindo aos pedaços, parecia um cão raivoso rangendo os dentes, fumegando pelas ventas enferrujadas. A subida era escarpada, estreita e perigosa. Não adiantava dar sinais de luz, muito menos buzinar ou fazer gestos com o dedo médio. Do lado direito a ribanceira era quase um precipício, do esquerdo, o trânsito era infernal e lento. À frente uma placa sinalizadora dizia: “trecho com alto índice de acidentes”. Fui paciente, até porque não havia outro jeito. Ideias ridículas vinham e fugiam de minha mente pervertida. Imaginei milhões de coisas e todas estas sandices vertiam para o mesmo fim: a bendita frase.

Como não tinha alternativa, segui literalmente o traçado do caminhão até quando o seu condutor deu sinal de que entraria no primeiro posto de gasolina, certamente para abastecer o monstrengo que já estava quase sem “fala”. A curiosidade era tanta que entrei no mesmo rastro. Para meu espanto era uma motorista e aparentava ser uma mulher de uns cinquenta e poucos anos de idade, uma criatura rude e forte. Ela percebeu minha aproximação e foi logo perguntando:

__ Algum problema que possa ajudá-lo? Vi que você não desgrudou da minha traseira embora pudesse tê-lo feito por diversas oportunidades.

__ Na verdade não é propriamente um problema, a questão é que fiquei intrigado com a frase que está na rabeira do seu robusto caminhão.

Aquela senhora olhou-me no fundo dos olhos...

__ Ela tem deixado muitos homens com a pulga atrás da orelha.

__ O quê a fez escrevê-la com tanta ênfase?!

__ Nem eu mesma sei. Li em um jornal que existem seis tipos de orgasmo, para chamar a atenção dos outros caminhoneiros, acrescentei um nove depois do seis. Acho que consegui o que queria.

Nossa conversa terminou ali mesmo. Engatei uma primeira e, com um breve aceno de mão, desejei-lhe boa viagem. Certamente nossos caminhos não mais se cruzarão. Porém em minha cabeça ficou o registro e a certeza de que tais orgasmos existem, quem sabe de formas diferentes daquelas que eu estava imaginando. Pensando bem, aquela criatura deveria estar em estado de graça quando me viu pelo retrovisor tentando desesperadamente ultrapassá-la sem sucesso.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 26/03/2009
Reeditado em 03/10/2017
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