FAÇAM O QUE QUISEREM FAZER

FAÇAM O QUE QUISEREM FAZER

Marília L. Paixão

Tinha saído cedo e voltado cedo ainda. De jeito nenhum esperava aquela passarinhada alinhada no telhado da casa. Como estavam silenciosos não esperava boas novas. Veio um bem sério como se estivesse vestido para uma apropriada ocasião, que no caso era dar a notícia:

- Nós não conseguimos encontrá-lo de jeito nenhum. Disse em um tom estudado, como se até a garganta já tivesse sido raspada antes.

- Então vamos aguardar mais um pouco. Provavelmente ele se encantou por alguma paisagem de alguma mais distante redondeza.

- Nós percorremos toda a redondeza.

- O que está querendo dizer com isto?

Um pesado silêncio por nada foi interrompido até que eu mesma retornei à fala:

-Vocês não acham que alguma coisa pode ter acontecido a ele?!

Em total silêncio obtive como resposta um triste movimento que significava um sim de todos os passarinhos.

- Olha, eu agradeço todo o esforço de vocês, mas asseguro que ele está em algum lugar e com certeza seguro. Ele apenas precisa de mais um tempinho antes de voltar para casa. Vocês podem cessar a busca e todos nós aguardaremos pelo regresso dele quietinhos em casa.

A passarada piou como se fizessem parte de um forte apache que não colocaria as armas no chão e começaram a se retirar um a um para lá de contrariados. Um bem arrepiadinho com cara de quem tinha acabado de tomar banho nas águas claras de um rio se aproximou e disse antes de se retirar:

- Você sabe que não faremos nada do que você disse.

- Sei. Eu quero que vocês façam o que vocês mais sentirem vontade de fazer.

Satisfeito e orgulhoso o passarinho voou como se fosse o único dono das mais importantes palavras.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 26/03/2009
Reeditado em 26/03/2009
Código do texto: T1506701
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