Quando o cangaceiro conhecido por Jararaca, que foi preso na cidade de Mossoró no dia 14/06/1927, após ter sido ferido duas vezes no decorrer da batalha travada entre bandidos invasores e os cidadãos defensores da localidade(aos interessados em conhecer todo o fato informo que o meu livro O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ - Trovas pode ser adquirido através do site www.biblioteca24x7.com.br), foi enterrado ainda vivo numa cova rasa aberta à entrada do cemitério, o clamor do povo foi quase geral. Por razões diversas, aí incluídos compaixão e temor. Alguns respirando aliviados pelo desaparecimento de uma verdadeira fera humana cujas atrocidades eram bem conhecida de muitos;  outros deplorando a forma como ele foi sepultado conforme corria a notícia à solta logo ao amanhecer do dia de sua morte.

Contam que naquela madrugada, levado por policiais ao cemitério pensando que estava seguindo para um presídio em Natal consoante lhe haviam dito, Jararaca, as mãos amarradas, finalmente percebeu a real intenção deles ao avistar a cova aberta. Naquele preciso instante, é óbvio, ele compreendeu que seria assassinado e enterrado na calada da noite.  Afoito, provavelmente querendo demonstrar sua coragem ante a iminência de morrer, pediu que lhe soltassem pelo menos uma das mãos para cair lutando como um homem. A resposta foi uma forte coronhada desferida por um dos soldados da polícia(outra versão defende que o cangaceiro foi "sangrado" por esse mesmo policial), e Jararaca caiu se debatendo na vala. Imediatamente, embora ele respirasse,  trataram de cobrí-lo com a areia utilizada para fechar a cova.

Essa morte horrenda despertou superstição e medo na mente simplória de grande parte da população mossoroense, espalhando-se o espanto e o temor para as cidades próximas. Ao ponto de, em pouco tempo, sabedores da maneira como Jararaca tinha sido enterrado, começaram alguns a acender velas  no túmulo do cangaceiro e fazer rezas ajoelhados e contritos, sempre no dia de finados, depois em qualquer época do ano, pois velas são vistas acesas de vez  em quando na calçada em foi transformada a sepultura do cangaceiro.

A princípio eram poucos os assim chamados "fiéis" presentes e compungidos à entrada do cemitério, despertando surpresa nos que passavam nas proximidades e enxergavam a estranheza daquele ato. Depois, contudo, passando de boca em boca estórias de supostos milagres atribuídos a ele, o número de adeptos foi gradativamente aumentando, criando, desse modo, o mito de que Jararaca virara "santo" depois de enterrado vivo e tornara-se capaz de fazer "milagres" e "curas". E como basta isso para aguçar o desejo de acreditar no sobrenatural e seguir as correntes à frente dessas crendices, o relato de seus crimes e a maneira cruel com que assassinava suas vítimas quando fazia parte do bando do famigerado cangaceiro Vrigulino Lampião imediatamente foi esquecido.

Para grande parte do povão ingênuo, José Leite de Santana, vulgo Jararaca, pernambucano de nascimento, bandido afoito e valente, destemido, violento, sagaz, por ter sofrido o macabro suplício de ser enterrado estando ainda vivo(pois essa fora a versão contada pela história tempos depois do acontecido, malgrado a existência de diversas versões a respeito, predominando porém a de que  realmente o cobriram de areia quando ainda respirava ) ganhara o condão de ser elevado à categoria de "santo". 

Até hoje, nesses tempos da comunicação ultra-rápida pela internet, em plena era do conhecimento e já em andamento o século vinte e um muitos são os que, crendo na "santidade" do cangaceiro Jararaca, fazem romaria para visitar o túmulo dele na parte externa do cemitério de Mossoró, onde seus restos mortais estão depositados, com o precipuo intuito de acender velas, rezar muito e, com certeza, fazer pedidos de toda espécie, mormente para curar enfermidades, arranjar emprego e pelas causas impossíveis.

Com que facilidade, bem vemos, as pessoas se deixam guiar por crendices e superstições e esquecem que, no falar de Deus através de Sua santa palavra, o único mediador entre Ele e os homens é o Senhor Jesus Cristo. Ninguém mais, ninguém mesmo!

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 25/03/2009
Reeditado em 24/05/2010
Código do texto: T1506171
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