E quem não quer?
Quero comentar sobre um filme que assisti, chama-se “Quem quer ser um milionário”, que pergunta mais tosca né!? Séria mais fácil perguntar quem não quer ser um milionário... Contudo este filme me fez refletir sobre a dinâmica da vida, este protagonista nasceu na Índia, no meio de uma favela em Mumbai, irmão mais novo e provavelmente de uma casta inferior. Sofreu todos os tipos de necessidades e angustias, viu a mãe ser morta, foi traído por seu irmão mais velho, foi apaixonado por uma garota que o seu irmão estrupou, enfim, imagine um cara que, despertaria dó, pena, misericórdia, enfim, aqueles sentimentos mais sublimes que brotam de nossa alma e nos convence - pelo menos naquele instante – de que somos realmente bons, acho que este tipo de sentimento e até egoísta, sentimentos em relação ao sofrimento dos outros que nos causa orgulho por sermos sensíveis, e sempre gostamos de dizê-lo aos outros com aquela cara de superior de espiritualizado – estou acima destas coisas, mas te entendo bem, compartilho da sua dor. Mas o interessante nesta situação e que este protagonista tinha ao mesmo tempo características que parece pertencer a toda pessoal predestinada ao sucesso, determinação, coragem, ousadia, humildade. Mas aquela humildade verdadeira, digna de pessoas que são seguras, uma vez ouvi em um filme uma frase que dizia: “O ser humano é o único animal capaz de sentir pena de si mesmo, um pássaro cairá morto de um galho sem jamais ter sentido pena de si mesmo”, isso me faz pensar na capacidade que o ser humano tem de sofrer, parece que o sofrimento é motivo de exultação, apresentar suas mazelas em bandejas de prata para que as pessoas se compadeçam da sua dor, mas o engraçado é que quando a pessoa consegue te convencer de que ela é realmente uma coitada, quando você acredita que o cara está perdido, um instinto de alto-preservação da estima é acionado e ela passa a querer te convencer do contrário. Esse garoto do filme sofre igual um condenado passa por coisas horríveis e no final, entra num jogo de perguntas e respostas e com as experiências adquiridas na sua vida de sofrimento responde a perguntas que pareciam impossíveis, como se algo sobrenatural estivesse no controle da situação organizando seus pensamentos em fatos de sua vida de uma maneira tão coordenada que ele chegava a lembrar-los com riqueza de detalhes, no final ele consegue responder todas as perguntas, vira herói da Índia, ganha 20 milhões de rúpias e reencontra seu grande amor e vivem felizes para sempre. Saí do cinema com a primeira sensação de que quem quiser ser um milionário tem que se ferrar pra caramba, e se você sobreviver a tudo isso, no final você vai entrar num programa de perguntas e resposta ou ganhar talvez na megasena e vai viver feliz pra sempre, pelo menos no filme porque acaba e você não mais segue a história. Será que isso é assim mesmo? Gosto de pensar que existe uma predestinação natural a todo ser humano em ser feliz, mas nos contos de fadas tudo parece ser mais romântico.
Raí Tavares