Amadora.
Se eu cantasse, cantaria baixinho só para você me ouvir. Meu canto seria intimista, sim. Um banquinho, um violão e minha voz dizendo coisas de amor.
Não toco violão, portanto, teria que ser acompanhada. Com minha expressividade gestual, nenhum banquinho aguentaria o tranco.
E o amor, para mim, tão amplo em suas manifestações, não seria contido nessa forma de cantar.
Por isso eu não cantaria como Nara Leão, que gosto tanto de ouvir, e assim, retiro o que disse ao começar.
Se eu pudesse escolher seria Elis atrás da porta, vendo o adeus nos olhos teus e me desfazendo para lhe amar ao avesso ou gritaria para todos ouvirem em voz perfeita o meu nome, como Gal cantou.
Se eu cantasse, cantaria como Ana Carolina e faria do som que vem da minha garganta a interpretação sincera de minhas emoções. Faria do meu canto a extensão das minhas inseguranças, das minhas dores e da plenitude de amar.
Se eu tivesse aquela herança genética eu cantaria como Nana Caymmi, com toda potência vocal que Deus e seus pais lhe deram.
Bem, se eu cantasse, cantaria com todo sentimento e técnica a dor que é minha e de mais niguém como Marisa Monte faz.
E incluíria o que só recentemente descobri: a exuberância de Maysa contrastando com a intimidade de suas composições.
Uniria, ainda, técnica e espontaneidade e me sentiria Roberta Sá, cantando Fogo e Gasolina.
Para falar a verdade eu não nasci sabendo, nem aprendi, mas canto.
Antes cantava em coro nas rodinhas e quando pediam para eu cantar só, emudecia. Agora, desavergonhadamente canto até de microfone na mão.
Não canto bem, mas interpreto cada letra com tanta intensidade que às vezes esqueço o tamanho de minha voz. Mas, é tão prazeroso que vale à pena a rouquidão que se segue.
Sempre disse que era uma cantora frustrada, mas hoje sei que o melhor de tudo é cantar sem medo de errar e só uma amadora pode cantar assim.