PERNILONGOS

Costumo parar durante as minhas pedaladas diárias para conversar com o seu Zé Paixão. Setenta anos, chapéu de cangaço, amarrado no queixo, calça social e camisa de mangas compridas, sapato lustradíssimo. Pedala assim todos os dias. E já me disse que tem cinco bicicletas. Uma alegria daquelas que “pegam” e uma disposição maior que de menino! Quando o conheci, estava tirando do bolso um remédio para tomar e perguntei se estava se sentindo mal. Ele me mostrou para que o lembrasse o nome. Não sei se é esquecimento ou se não sabe ler.

- Gardenal, li meio preocupado.

- Moço, tenho que tomar esse remedinho pro resto da vida, o doutor falou. Eu caí de cabeça um dia e fiquei assim meio esquecido das coisas.

Ficamos amigos e volta e meia paramos para um rápido bate-papo, entre o descanso e novas pedaladas. Dia desses comentava de uma noite mal dormida por causa de pernilongos que me infernizaram o sono. Contei a ele que não podia usar esses venenos eficazes em aerossol, que minha mulher tem alergia respiratória e que esses refis de tomada são é vitamina para os bichos. Não espantam e os fazem zoar ainda mais.

-Pois, seu moço, lá em casa tá do mesmo jeito. Outro dia eu coloquei umas balas no revólver e dei uns dois tiros debaixo da cama. Os vizinhos perguntaram se eu tava ficando doido. Ora, pode até não ter matado mas deu um fumaceiro que não vi mais pernilongos!

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 25/03/2009
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