SONÂMBULOS
A noite cai sobre a cidade, o trânsito é sufocante na hora do pico, os senhores sisudos com telefones celulares à mão, hermeticamente fechados em confortáveis automóveis, passos apressados e indiferentes, filas enormes nos terminais dos ônibus.
Pequenos espectros esgueiram-se pelos bueiros, buracos sob os viadutos; No exame minucioso, vê-se, apesar da osmose, que não são ratazanas, porém crianças que perambulam pela cidade.
São os filhos de ninguém, órfãos de pais vivos, dormem em sarjetas, valetas, sem o colo das mães, repartem o lixo-comida, junto a sarna dos cães.
Eles chegam, dos becos, dos guetos, moleques esqueletos, das ruas, vielas, formam nova família, cheiram cola, fumam maconha, cantam e batucam. Sócios no vicio. Crianças... apenas!
Isto cala fundo, dilacera a alma, mostra a pequenez do semelhante, que tudo pode e nada faz.