Meu Coração Pulsa POP

 

 

Certa ocasião, durante uma entrevista em rádio, perguntaram-me se eu classificaria meu trabalho como pop-rock. Imediatamente respondi: não, claro que não! Sou compositor de MPB!

Infelizmente, há no mercado uma infinidade de classificações para a música que fazemos. São tantos nomes que já não sei mais quem é quem — MPB, Latin, Rock, Pop Rock, Isso Pop, Aquilo Pop, Merda Pop, Bossa Nova, Bossa Funk, Funk Jazz, Bossa Bosta, Punk Rock, Over Bossa, Bossa Obama, Bossa Osama… O que é isso?!!

A música ou é erudita ou é popular, não mais que isso. A Bossa Nova é MPB. O Pop Rock feito no Brasil é MPB. O Lulu Santos, nosso autêntico POP, faz MPB. E o que é MPB então? Ora bolas, é M de música, P de popular (pois é feita para o povo.. ou não?!!) e B de brasileira, porque é feita no Brasil — e isso independe das influências. Fiquei dias pensando sobre o assunto, tentando compreender o motivo dessa classificação tão diferenciada para a mesma pessoa: a música.

Há pouco tempo, em Brasília, recebi um convite — meio velado, é verdade — para apresentar meu trabalho em um espaço já consagrado na cidade; espaço que faz parte da tal a música considerada cult , voltado para um segmento bem específico da MPB. Até então, tudo normal, mas eis que surge o seguinte comentário: poxa, você vai tocar lá?!?!?! Achei estranho que houvesse tamanha admiração com a situação, então perguntei: qual o motivo do espanto? Tive que ouvir a resposta que endossa essa coisa da classificação equivocada que se tem para música hoje: por nada, é que lá é mais voltado pra MPB. Claro que pensei um pouco e contei até dez.

Pense você, se naquele mesmo espaço, passássemos horas em um show ouvindo que “o pato vinha cantando alegremente, queeeemmmm!!!!” — nada contra o João, que aliás, eu adoro e que, ao som de patos e marrecos, consegue inserir, com elegância, uma harmonia de beleza peculiar —, teríamos uma centena de paspalhos e pseudocults aplaudindo e dizendo: Bravo!!! Você viu isso?!! Viu aquela inversão?!!. Entretanto, essa mesma galera talvez torcesse o nariz se ouvisse que “a paixão veio assim, afluente sem fim…” — onde a beleza melódica, harmônica e poética se completam e fazem com que tudo transcenda —, uma vez que o criador, embora seja um dos grandes compositores atuais, faz parte de uma vertente POP, segundo a classificação dessa tal elite cultinha — ou talvez, curtinha…

Considerando tais comentários — e outros —; diante da classificação que estão impondo à música e ao artista, não é de se surpreender se em algum momento, um desses destemperados disser que o Djavan, por exemplo, não deve se apresentar naquele Clube. Comédia né??!! O Djavan, um de nossos maiores mestres, que além de ter criado Fato Consumado, Flor de Liz, Capim e tantas outras pérolas (classificadas por essa galera como a mais autêntica MPB), também compôs a bela Se, que se não fosse composta por ele, talvez esses loucos classificassem apenas de POP, mas em respeito ao mestre, é pura MPB — que de fato é. E diga-se de passagem, é MPB da melhor qualidade.

E aqui estamos nós, à deriva em um mar de enganos. E nesse vai e vem sonoro, no meio de músicos, músicas e outros curiosos, tem uma corrente que se julga purista e que, mesmo não entendendo muito do assunto, acha que complicação é sinônimo de boa música. É a turma da notorréia. É aquela galera que adora desfilar a bandeirinha cult e acha chique um papo mais retrô. A verdade é que nesse caldeirão há música de todo jeito: complexa e complicada; música linda e complexa; música ruim e complicada; música complexa e descomplicada; música ruim e complexa. Enfim, música pra todo gosto, com muitas ou poucas notas, com muitos ou poucos acordes, com mais ou menos silêncios; músicas mais ou menos geniais… há música.

Meu coração pulsa Pop. O Pop é feliz, alegre, sorridente, elegante. Não pulsa vazio, não pulsa tosco, nem é oco. Bate com requinte. Meu coração pulsa e cria em acordo com a diversidade de sentimentos, por isso, faz bossa, samba, baladas e afoxés. Meu coração valsa livre e não se perde da correção da língua enquanto joga com as palavras, porque respeita a beleza estética enquanto cultua a norma.

Bebam e brindem comigo todos aqueles que criam e não apenas os que repetem ou criticam. Comunguem comigo os que criam bem e os que assim criticam.

Ouço vozes às centenas, aos milhares; muitas delas, passarinhas. Também outras, que não se aninham e nem me abraçam… heterótrofas, apenas. Que não faltem os criadores, para dar-lhes o ar e o alimento. Há péssimas e belas vozes. Vozes que sangram e que choram, mas há outras que sequer suam. Algumas saudosistas demais e que não se arriscam à prancha e nem ao Jet-ski; somente andam de barquinho, e mesmo assim, cantam desafinado.

Aos bois, os seus nomes, e aos porcos, também. Que se coloque a roupa em boa medida. Seja poliglota, poligâmico, poliverso, poliqualquercoisa. A música vai muito além do banquinho e do violão, seu bobo! As coisas aqui seguem e são plurais. Rimar amor e dor (que acho lindo e faço) pode não ser tão interessante quanto o não-rimar de calçada com mitocôndria, fio dental com dicionário, ou qualquer outra coisa do gênero. Meu coração pulsa POP e eu faço MPB, sim.

Deni Reis

Deni Reis
Enviado por Deni Reis em 23/03/2009
Código do texto: T1501950
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