Sujeitos

          Como dizem os mais precavidos, todo cuidado é pouco, principalmente quando se fala de gramática.

Ao ler o informativo em uma determinada página na internet, o sujeito enche o peito e diz: Que absurdo! Sujeito e verbo não se entendem!

O leitor, embora bem familiarizado com a gramática, descuida-se ao ler o texto e envia uma equivocada crítica aos redatores, sugerindo que fosse feita a correção. Silêncio secular... Por um bom tempo, nenhuma resposta. Nenhuma manifestação em relação à sua crítica, batizada, mais tarde, de invectiva e serôdia por uma verdadeira tropa de elite.

Tempos depois, os redatores do texto, que há de se convir, até bem construidinho, faltando apenas uma vírgula para separar um aposto existente, enviam uma carta eletrônica em resposta à intervenção do entusiasmado observador, e por mais incrível que pareça, a resposta chega quase viva. Chega cavalgando num puro sangue alado. Quase um submarino nuclear. Um tiro de milhões de megatons em uma muriçoca. Hilário! Uma resposta que tarda mas não falha e justifica sua demora pela forma a que chegou ao seu destino: pesquisada e super-assinada; vaidosinha e egocêntrica. Uma resposta descarrilando gramática abaixo. Certinha, porém cafona. Normacultíssima, feridíssima, feriníssima, frenética, entusiasmada, faminta...

 E a pergunta que não quer calar: quem é o sujeito?

Mexe de lá, mexe de cá; lê-se, observa-se... São sujeitos diversos. O sujeito do bombástico período, que interessante, é oracional. Em tempo, ruminantemente esclarecido pela implacável tropa de elite, e por dever, admitido pelo crítico - oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo. O sujeito da crítica, ora, um discreto servidor público, porém, poeta, músico, professor, bom amante..., nas horas de folga, cronista. O terceiro sujeito é “O Cara!” da resposta. Ele é oculto, indeterminado..., talvez muitos sujeitos.

De um lado, o crítico: sujeito claro, existente, agente e neste particular, paciente também. Diria até que é um super-sujeito!

Do outro lado, o criticado: sujeito indeterminado, oculto, representado, impaciente. Talvez um sub-sujeito.

E no caldo quente desta sopa de letrinhas, vocábulos e orações; na requintada resposta com período composto por SUBORDINAÇÃO, surgem, então, os mais diversos sujeitos, que vêm enriquecer ou anarquizar de vez a nossa velha e complicada gramática: sujeitinho, sujeito assinante, sujeito aflito, sujeito ferido, sujeito arrogante, irritado, subexistente. Sujeitos.

Mas enfim, todo cuidado é pouco quando se fala de Língua Portuguesa e em Língua Portuguesa.

Mas no balanço final, perece que todos os sujeitos sobreviveram, permanecendo apenas o mistério: o sujeito indeterminado oculta...

 

Deni

Deni Reis
Enviado por Deni Reis em 23/03/2009
Código do texto: T1501295
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