Pânico versus Clodovil

O humor televisivo sofre dois sintomas claros de êxito em decadência. O primeiro caracterizado pela ausência do efeito surpresa, dispositivo para altos talentos em situações rápidas de raciocíneo lógico. O segundo de completa noção de liberdade conquistada num passado recente de ditadura, sisudez e truculência. Com ausência de tais elementos temos um verdadeiro pânico na televisão brasileira.

Confesso que fiquei curioso para ver o desfecho cômico desse programa um pouco humorístico tratando-se do enfoque “Clodovil”, falecido há tão poucos dias. Com certa intuição crítica esperei para alcançar o tipo de abordagem, pois esperava algo inédito com fundo respeitoso, igualmente desejado para um dos nossos entes queridos; indiferente de fama ou posição social. O que esteve no ar nesse domingo tocou-me profundamente em se tratando de retrospectiva bizarra, cruel e simplesmente sem piedade sobre esta personalidade acometida de êxito letal.

Rir dos mortos é arcana forma de exorcismo. Confesso não ter sido admirador do estilista, apresentador e político, mas de certa forma pude compreender no olhar dos outros, do público em geral, reverência quanto ao seu caráter sincero, da reputação de sua inteligência para com biografias, e um carisma que o consagrou. Assisti o programa “Pânico” para compreender até onde alcançariam as inoportundas investidas que para meu espanto não foram poupadas nem mesmo após a sua recente morte. Triste programa de retrospectiva póstuma. Tive impressão de que viveu uma espécie de terrorismo mental sem nenhum comedimento.

Quanto ao Clodovil parece-me que tentou em vida contestar tal situação em nome da razão, pouco em voga na estrutura de comunicação para divertimento de massa. Morto revelou sobre o programa, para quem pode analisar os fatos, a diferença entre bom humor saudável, pleno, libertador, contra a execração pura e simples; que a título de humor, permeia as almas mais primitivas. Confusão entre falta de humildade e tolice espontânea.