Crônicas de um alguém perdido no mundo- Assalto.

Quatro indivíduos caminham em nossa direção.Vultos,quase ocultos pela escuridão.

Fala-clichê:

-Não falem nada e passem tudo que vocês tiverem.Vamos,vamos!-Não é mais clichê por que está acontecendo com você.Olhares assustados,olho para o lado e entrego a bolsa,é automático.Minha amiga reage,e apesar dos meu gritos para ela entregar a bolsa,persiste e recebe um soco na cara.Eu a seguro e peço para eles pararem.Depois de checarem se já pegaram tudo,se vão numa rapidez única e sem solução.Estamos sozinhos,vulneráveis.Não dá para fingir que o que tínhamos não existiu.Sim,eram apenas bens materiais,estamos vivos,é o que importa.Mas o chegar perto do perigo dói,dá medo e apavora.Uns nem tinham armas,outros realmente a tinham,agora não mais importa.Estou inerte,vontade de ficar deitada na cama encolhida.Sinto um vazio,vazio estranho,difícil de ser preenchido.Uma sensação ruim de impotência e de saber que você vai ser parte de mais um daqueles casos contados que aconteceu com a amiga do seu amigo.Vai ver teria sido um pesadelo,mas não foi isso.Foi real,é a realidade,enfrente com coragem,vamos!Ninguém pode adivinhar o que poderá acontecer ao se cruzar a próxima esquina,a próxima rua,a próxima praia,a próxima noite.Já passou,arrependimentos não vão mais adiantar.Sempre poderia ter sido pior...ou melhor.Se levaram 50 reais seus,levaram uma câmera de dez mil de outra.Se você levou um tapa,outra pessoa em outro lugar levou um tiro.O bom é ruim e o ruim é terrível.O mundo hoje em dia pode mesmo ser um lugar terrível.Justiça,polícia.Ligamos.Onde está ela:Em lugar nenhum.Casos como esse são casos perdidos,não vale a pena para ela correr atrás.Fico imaginando quando valerá...Apenas quando alguém morrer,acredito.E muitas já morrem.Chega a ser chato o quanto isso é clichê,todos os números de casos são clichês,até acontecerem com você.Agora isso é fato:fui assaltada,na sociedade capitalista estou enquadrada.Cansada e desgastada como se tivesse caminhado cem quadras.Mas não psso dizer que não tenho culpa,por que de alguma forma todos nós temos,por deixar a sociedade ser o que ela é.Mas também não posso dizer que tenho,azares acontecem,poderia acontecer com qualquer um.A verdade é que nenhuma das conclusões que eu tirar será muito concreta.O fato é concreto,as coisas que eles podem desencadear ou desencadeiam em uma pessoa depois é que não são.Eu sei que ainda posso estar no calor do momento,mas sei que essa será uma lembrança sempre presente,em cada passo que eu der na rua.E tenho o pressentimento de que não será a última vez,na atual sociedade sempre há próximas vezes,o que é assustador.Não sei exatamente como tirar alguma lição disso,mas tirarei,mesmo que no futuro...

Quatro indivíduos desaparecem de nossa vista.São ainda vultos,quase ocultos pela escuridão.Nos assaltaram, e se perderam na imensidão...

Adriana Monteiro
Enviado por Adriana Monteiro em 23/03/2009
Reeditado em 23/03/2009
Código do texto: T1500913