Diante da razão do tempo

Um grande sonho meu era que minhas palavras soassem sempre lívidas e misteriosas. Que unidas, formassem sentenças parcas e vastas. Isto representava sabedoria. Não gastar muito tempo falando, discutindo, proseando. Bom mesmo é aproveitar as horas que se esvaem fugidias do presente que insiste em não ficar. O ideal é ir. Para algum lugar, sem correr muito.

Falar, para mim, não é tão revelador quanto escrever. Emitir vozes, ainda que significando muitas coisas, não demonstra emoção o suficiente como deslizar a caneta sobre o papel. Escrever é registrar minhas multiplicidades, de tudo que passa e permanece em mim. É no escrever que tento denotar com perfeição tudo aquilo que penso e sinto. É nele que ideias e palavras se organizam. A mensagem fica melhor.

E nesses dias tão banais, escrever é minha melhor opção. Meu desequilíbrio se torna tão organizado... E é o momento em que lembrar o que passou, viver o instante fugaz e refletir o incerto amanhã se fundem numa única folha de papel.

Em especial, surge um único tema: um transeunte de minha existência, com quem compartilhava minhas horas de sorriso e de solidão. E registro o que para mim era e o que deixou. Não aqui neste escrito. Mas em minha alma.

Um alguém que, como eu, secreto e de uma alma ritmada pelo pensamento. Um cara que esvaziou minha ilusória verbosidade. O falar cedia ao silêncio, assim como hoje. O silêncio de poder perceber o que há ao redor. Não do mundo. Mas do pensamento, de mim, de nós . Era o momento em que o nada representava tudo. O tempo passava. Mas todo mundo não anseia por eternidade?

Morrer algum dia constituía para ambos um anseio aguardado. Porque pessoas que esperam pelo amanhã temem em não se realizar. Nós, não. Éramos completos por inteiro no hoje. Por isso não tínhamos tempo para fingir: o instante é curto demais para representar. Nossa consciência adormecia em uma doce sensação de vazio que preenchia as noites, compostas apenas de memórias singelas.

Não via nisso motivos para melancolias. Era oportunidade de motivação para todos os dias, sempre lembrar que se deve fazer o melhor. Dentro do tempo, não há razão para entender. Há aquela razão de sabedoria de escolher o que é certo. Errar não é opção. É sábio acidente, um aviso de que a infelicidade nos aguarda se repetirmos o engano. E às vezes, constituía ainda uma força de nunca se contentar com pouco.

E isso permanece em mim hoje. Eu, composto de uma ausência que me motivava a viver. A aceitar minha vocação de fênix, de renascer em minhas cinzas, todos os dias. Só não sei como fazer sem ele. Meu irmão. E, ao me ensinar que a Razão é restituída para todos que não conseguem ver só o tempo passar. E muita coisa mudou. Mas eu? Não mereço mudar só porque as circunstâncias vêm em contramão. Meus amores permanecem. Sem entendimento. Sem futuro. Só de instantes. Curtos e fugazes.

Para quê falar muito? Escrever é bom para aqueles que gostam de lembrar.

Rani SS
Enviado por Rani SS em 22/03/2009
Código do texto: T1499697
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