Poema inacabado

Meia hora ali, parado, fitando não se sabe o quê,

olhando não se sabe prá onde.

A caneta muda, esperando.

Esperava por ela e ela, não vinha.

No papel, o poema quase pronto, inacabado,

esperando por alguém que teimava em não chegar.

Êle podia senti-la pairando por ali,

fazendo cócegas na mão,

pronta prá sair, mas não saia.

Pensou até em por outra no lugar;

rimava do mesmo jeito.

Mas, não combinava porque não era ela.

Cansado de esperar por quem não vinha,

resolveu sair, dar uma volta, espairecer;

quem sabe, não pensando mais, ela viria.

Largou a caneta, deixou o papel em cima da mesa e saiu.

Mal abriu a porta, parou;

mistura de surpresa, espanto e decepção.

Do outro lado da rua, passando, ela,

solta, leve e bela, muito bela,

abraçada com alguém que êle não conhecia.

Estampado no rosto, um sorriso;

aquele sorriso que êle bem conhecia.

Triste, deu meia volta, guardou a caneta,

rasgou o poema e jogou no lixo.

A certeza de que nunca mais iria termina-lo.