NÃO VOU CONHECER O AMOR...
Acabei de constatar uma coisa que sempre soube, mas que nunca desceu ao terreno da consciência clara, exatamente para não admiti-la, para não sabê-la nunca... Não sabê-la, por quase sabê-la intolerável, mais uma premonição ou um mecanismo de defesa...
Não.
Não.
Não.
Não saber foi melhor na hora. Na hora foi melhor morrer. Ou simplesmente não existir. Não fui eu, foi a alma e o corpo que decidiram como não sentir nada. Não existi. Deixei de existir. Não houve sentido. Os dias continuaram. O caminho já estava traçado. Havia um sonho... Sim, um sonho, quê mesmo?
Interfone interrompe, toca: “alô?”
Lá da portaria: “É da locadora”.
É Tiago que chega, trazendo filmes para eu assistir e leva os já vistos. É um menino simpático, um jovem lindo, maneiro, sempre com roupas e cabelos supertranzados, modelitos avançados, cabelo cacheado feito anjo, falante, despachado, informal, uma delícia de pessoa, um rapazinho de uns quinze a dezoito anos. A gente se dá superbem. E ele fala:
...fui despedido, estou me despedindo...
Ele fala e mexe o corpo todo, pisa num pé e depois pisa no outro, como se estivesse no ar, ou quase.
E eu: - por quê?
_ Vou voltar pra dança!
Que dança você?
_hip hop, dança contemporânea, balé, jaz...
Encantei-me: -“Posso passar a mão no seu cabelo?”
_Pode...
...passo, macio... É amor que sinto pelo outro. Pelos outros.
Pergunto logo – já viu a Débora Colker?
Ele: Vou lá falar com ela hoje! Dança e estuda com ela. Animado, alegre. Sabe o que vai fazer na vida!
Despedimo-nos, BOA SORTE, vou-te ver dançar um dia!
Ele se afastando; “vai sim, moro aqui perto”...!
Entrei e fechei a porta.
Foi um adeus.
Por que choro?