CORTE "SUAS" CABEÇAS...

Você conhece a Hidra de Lerna? Tenho certeza que sim e mais…você pode ter sido sua vítima minutos atrás. Sua picada é extremamente venenosa e vampiresca, que para a original da lenda grega não existia antídoto - Uma vez picado restava a agonia de esperar a morte e sua misericórdia. A Hidra que nos ataca diariamente não precisa fazer muito esforço para inocular o seu veneno, isso porque ela conhece muito bem sua presa - a nossa alma. E nós o que conhecemos dessa intimidade tão divina, ou melhor, o que sabemos acerca de nossa verdadeira existência? Honestamente, bem poucos responderão que não sabem quase que absolutamente nada, a maioria vai preferir recrutar os sofismas para açoitar os argumentos da realidade que, insistentemente diz: “Você está fingindo de viver… Viver é dar prazer para a alma, é fazer a carne vibrar os seus gozos por intermédio do cordão umbilical do espírito - e só se proporciona tal prazer com o esforço em querer aprender sobre os caminhos que levam ao nosso encontro. Admito que são árduos, porém cheios de recompensas”.
Conhecemos muito bem o nosso anfitrião, o corpo, feito de muitos ingredientes, alguns sabemos de sua existência a olho nu, outros são preciso uma abordagem mais elaborada, um microscópio capaz de revelar tramas minuciosas em que se revezam batalhões de glóbulos brancos, vermelhos, micróbios, bactérias, células assassinas e até mesmo guerras intercelulares. O nosso conhecimento do anfitrião é tão avançado que somos capazes de ajudá-lo ao menor sinal de perigo com infinitos coquetéis de drogas - precisamente chegamos a ter um exército de soldados bem armados com aspirina, cefaliv, neosaldina…uma covardia para uma pequena dor de cabeça.
E quanto a  alma, essa diva essência, que resume os segredos de nossa existência, que se esconde por detrás de nossos espelhos se ver desafiada pela Hidra de 365 cabeças - aquela Hidra que dia-a-dia nos coloca em tantas contradições, como a socorremos? Somos ensinados a amar, mas em combate tornamo-nos aliados fervorosos desse monstro e ele nos faz uma de suas cabeças. Assim sorvemos o ódio em néctar de suas próprias entranhas e pensamos que ao matar o adversário estamos ganhando a guerra. É verdade que não conhecemos nem mesmo a periferia de nossa alma, mas sabemos qual o único alimento que ela degusta - Sentimentos (bons ou ruins), este é o verdadeiro caviar que nutre os desejos da alma.
A Hidra da lenda grega era uma serpente gigante de muitas cabeças, que amedrontava a região de Lerna, na Argólida e só foi derrotada por Hércules ao cortar-lhe as cabeças, porque este teve a feliz idéia de pedir ao seu fiel amigo, Iolau, para que fosse cauterizando as feridas com o fogo de um archote, impedindo assim que voltassem a nascer outras cabeças. Hércules nos aponta uma possível solução para enfrentar a nossa Hidra de 365 cabeças.  A cada dia podemos cortar uma cabeça, aquele sentimento negativo que ao nos atacar faz-nos agir conforme sua vontade, para este é só lembrar daquele sábio conselho: “não se combate o fogo com o fogo, mas com a água cristalina de um pensamento equilibrado”. Para cauterizar as feridas devemos recordar aqueles momentos em que nos faltou a humildade necessária para reconhecer que a nossa Hidra sempre nos ataca com a nossa própria cabeça.
Somos nós mesmos essa Hidra em fúria, a picar e condenar mortalmente os sentimentos de amor. A Hidra de Lerna tinha uma cabeça imortal que o nosso herói Hercules enterrou debaixo de uma grande pedra. A nossa talvez não sejamos ainda capazes de enterrá-la, derrotando-a para sempre, mas se esforçarmos para aceitar aquele sentimento universal - de amar o próximo como a nós mesmos, certamente nossa Hidra terá menos cabeças e não abocanhará ferozmente a pobre alma, que desconhecida já pede socorro a muitas e muitas existências. É isso que nos faz metade, ter muitas cabeças que não pensam e que só querem conhecer os caminhos mais fáceis da vida - é mais fácil odiar do que amar ou como dizia Tácito: “Os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança, um prazer”.
Quantas cabeças você já cortou na vida? Muitas? Ah…dos seus inimigos? Isso é muito fácil. Quero ver você cortar as suas. Como? Você não tem cabeças? Pena…pensando assim você só faz um ser feliz - a Hidra dos seus espelhos que vigia sua alma doente.




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