A LOUCURA É A MAIOR ORAÇÃO

Embora sejamos dotados de inteligência - imenso presente divino, preferimos a tagarelice dos mantras, das rezas repetidas à exaustão, como se orar, o falar com Deus (deuses para alguns) fosse uma copiosa tortura desprovida de sensibilidade e o que é ainda mais alarmante - totalmente fálica e suicida. Cada vez que repetimos centenas de vezes as mesmas orações, matamos um pedaço de Deus dentro de nós - desperdiçamos uma oportunidade por conta de uma lavagem cerebral que teimamos em fazer em nossa individuação. Assim nos tornamos robôs e atendemos somente a comandos específicos - os comandos dos padres, dos gurus, dos ditos mestres…todos os comandos… menos é claro, o grande comando do Criador. Esquecemos a brilhante dádiva da verdadeira oração que verte do coração - aquela que fala diretamente, sem regras e intermediários e principalmente sem medo. Tudo que um mantra e infinitas rezas tagarelas podem oferecer é uma mordaça - é isso que claramente transforma Deus numa mercadoria barata, escravo de nossas pretensões, tutor de uma fé cega ou maestro de uma orquestra lamuriante.

O gesto obsceno da repetição é tão degradante que conduz o homem a sua maior perdição - a atrofia de sua inteligência divina, seguido de sua invalidez como “ser capaz de transformar-se e elevar o mundo de sua condição nascitura”. Brincamos continuamente de servos e senhores. Servos de sonhos que jamais alcançaremos, afinal foram impostos pelos outros, senhores de uma morte que criamos a cada repetição - ciclo vicioso que domestica a beleza sincera de amar… domestica e mata cruelmente a cada “Pai nosso que estais…”. Esquecemos também que o autor desta oração era um louco. Um louco que construía seu templo dentro de si e por isso não concordava com as indulgências cobradas pelo fabuloso templo dos sacerdotes para que sagrasse suas conversas com o Pai. Nele deve ter se inspirado Erasmo de Rotterdam: “É à loucura que se devem os grandes feitos de todos os heróis”.

Na idade média um homem foi acusado de ter cometido assassinato. O juiz querendo um julgamento rápido lhe ofereceu uma opção: “Deus é quem o julgará, portanto escreverei em dois papéis a sentença. Em um estará gravado inocente e no outro culpado, você escolherá”. Mas o juiz era uma espécie de falso guru, deste modo escreveu culpado em ambos os papéis. Na ora de escolher, o acusado ao invés de apelar para o “Pai nosso…” usou sua inteligência divina. Subitamente pegou um dos papeis e engoliu. O juiz espumando de raiva perguntou: “Porque fez isso, agora como saberemos o veredicto?”. “Simples - respondeu o acusado - abra o papel que sobrou, assim saberemos que acabei engolindo o seu contrário”. Imediatamente o homem foi libertado. Alguém que passasse a vida inteira repetindo os mesmos mantras não teria feito aquela GRANDE ORAÇÃO - uma criativa loucura que deixou Deus falar nele mesmo naquele momento decisivo.

Blaise Pascal era um religioso repetitivo até descobrir que a maior oração era a loucura. A loucura o deixava mais à vontade para conversar com Deus. Numa de suas orações concluiu: “os homens são necessariamente loucos, tanto que não ser louco seria loucura de outra espécie”. Pascal morreu jovem, aos 39 anos, conversava tão fluentemente e continuamente com Deus que suas últimas palavras foram: “Que Deus jamais me abandone”. Mais alguns suspiros e teria dito: “Que Deus jamais me abandone de minha loucura, jamais me separe de nossas conversas regadas a muitos risos, muitas gargalhadas e de intensas emoções…” porque foi nesta loucura de pensar diferente que nos tornamos “UM”.

O que chamam de loucura por aí é um retardamento mental que nos ensina a escolher entre culpado e culpado, por isso evoco minha loucura: SENHOR, SENHOR… NÃO TENHA PIEDADE DE NÓS… DÊ-NOS CADA VEZ MAIS A LOUCURA… CRIATIVA E LIBERTADORA.


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