Maturidade
MATURIDADE
A própria palavra “maturidade” carrega um peso quase tão depreciativo quanto “velhice” e, no entanto, as duas são completamente diferentes. Independem da idade cronológica; são um estado-de-espírito.
Velho, é o indivíduo que não tem projetos, sonhos e objetivos concretos a realizar. Acha que a vida é monótona e insípida. Não faz novos relacionamentos e pensa nos que tem como fardos ou prisões, e os arrastam ao longo do caminho. Imagina que as pessoas, ao seu redor, armam sempre alguma situação para explorá-lo, para obrigá-lo a fazer o que lhe desagrada. Não está contente com a situação presente, mas não move uma palha para modificá-la. Cumpre todas as suas responsabilidades como um soldado estóico e valente, mas sem vocação para as forças armadas. Não gosta de carne nem de peixe; não lhe agradam as aves; menos ainda, os legumes e frutas. Açúcar engorda e bebidas alcoólicas fazem mal ao fígado. Gosta de cinema, mas tem preguiça de sair de casa. Filmes, na televisão, não têm graça; a telinha não causa a mesma emoção da telona. Gosta de ler, mas os livros recém-lançados são muito grossos.
Sente que a saúde é precária e, pensando bem, está desenvolvendo o sintoma mostrado naquele artigo sobre.... É freguês da farmácia do bairro e se automedica com as drogas liberadas, que foram lançadas no comércio recentemente. É o próprio “doente imaginário” de Molière.
Se seu estado civil é casado, reclama do cônjuge que não lhe compreende. Alega que errou na escolha e se precipitou, mas não parte em busca de outra pessoa, dizendo que são todas a mesma coisa, só mudando o nome e sobrenome. Se é alguém só, a solidão o incomoda e vive reclamando da incompreensão alheia e do egoísmo generalizado.
O velho vive de saudade, se alimenta de nostalgia e sofre de melancolia do passado, que nem feliz foi. Fala em “meu tempo” e “antigamente”, fazendo deste binômio o lema da sua vida. Aquele que ainda não atingiu esta idade cronológica, mesmo assim, já está esperando a morte.
A pessoa madura já teve sua fase de juventude e loucura. Já passou do tempo complicado de ter que decidir a profissão e o rumo de sua vida. Já obteve alguma estabilidade financeira e se relaciona equilibradamente com os amigos e com os amores. Estabelece regras próprias, separando os negócios de sua vida pessoal. Respeita as hierarquias e valoriza os laços familiares. Considera como importante às tradições e adora viajar, para conhecer novos costumes. Tem atitudes harmonizadoras, compreendendo rompantes intempestivos de um amigo problemático, ou que atravessa um tempo difícil. Gosta de esportes e aprecia a vida ao ar livre: praia ou montanha.
Para se atingir à maturidade é necessário ter passado pela irresponsabilidade do adolescente e compreender que isso já não preenche sua exigência interior. Sente a necessidade de independência emocional e financeira. Sai de casa, coloca firmemente seus dois pés no chão, olha o horizonte e ambiciona alcançá-lo. Não desanima ao primeiro obstáculo, de muitos, que o destino sempre proporciona.
A maturidade nos faz de bem com a vida. Nos dá vontade de ler jornais e se atualizar, tomando conhecimento dos últimos acontecimentos, no Brasil e no mundo.
Faz parte dela, torcer por um time de futebol e navegar na Internet. Dispor de celulares (de trabalho e de amigos) e conhecer as tecnologias musicais. Saber dirigir e falar língua estrangeira, pelo menos o inglês.
Não ter vergonha de chorar e dizer “eu te amo”. Ter consciência de que a perfeição só a Deus pertence e que o perdão é saudável e até recomendada a sua prática eventual. Se compadecer da miséria alheia e ser solidário do infortúnio. Participar de uma comunidade religiosa ou literária; um grupo de viagens ou de estudos de matéria específica. Não sofrer de preconceitos raciais, culturais ou filosóficos. Ainda saber brincar e constantemente ter o senso de humor apurado.
Se você preenche esses últimos requisitos e lhe conheço, com certeza sou sua amiga, porque me identifico com sua plena maturidade.
Petrópolis, 21 de março de 2009