Fazendo Ioga
Fazendo Ioga
suzabarbi@hotmail.com
Equilibrar a energia do corpo com a energia da mente.
Era tudo que ela precisava.
Aquela história de ficar horas em frente ao computador, pendurada no telefone e sempre correndo como uma biruta maluca, para cumprir os prazos da vida, não estava funcionando mais para ela.
Precisava fazer alguma coisa.
Descobriu o caminho quando encontrou com o gordinho do escritório na cantina, claro, e ele lhe confessou:
- Minha mulher reclamou a vida inteira do meu ronco. Resolvi a fazer Ioga. Depois disso, descobri que tenho nariz!
Foi direto para o Google pesquisar sobre o assunto.
“Pessoas que sofrem de dores crônicas apresentam melhoras e necessitam de menos remédios analgésicos à medida que praticam a Ioga”.
Estava fechado!
Com a Ioga sua dor na coluna iria pro saco.
No dia seguinte, matriculou-se na dita cuja.
De roupa apropriada, especialmente comprada, lá foi ela para sua aula inaugural.
Mais quatro pessoas faziam parte do seleto grupo que aprenderia respirar, ter postura e mandar as dores pras cucuias.
Assentada com as pernas cruzadas em posição de lótus, ela iniciou o processo do “innnnsssspiiiiraaaaa”.... “exxxxppppiiiiiraaaaa”.....
Nos dois primeiros “inspira-expira” a posição de lótus já parecia posição de cactus.
Sua coluna começou a arder.
Abriu os olhos, olhou para os lados, viu todos compenetrados na respiração e pensou:
- O inferno é mais suave...
Hora de deitar e relaxar.
Ufa! De volta ao paraíso!
Uma música calma inundou (junto com o incenso) o ambiente.
- Agora vamos relaxar. O professor dizia com voz baixa.
- Tentem relaxar a cabeça, movendo-a para os lados, bem devagar. Agora, os ombros, os braços, as mãos, o tronco, as pernas.
Ela foi ficando dormente.
E com sono.
- Concentrem-se, agora, no couro cabeludo.
Couro cabeludo?
Como é que vou concentrar no meu couro cabeludo?
- Inspirem bem devagar e expirem, relaxando os pulmões.
O sono voltou.
- Relaxem o coração, o estômago, o pâncreas...
Pâncreas?
Onde é que fica isso?
Ela abre apenas um olho e olha sorrateira para seu colega ao lado.
Precisava saber se ele conseguia “relaxar o pâncreas”.
Ele dormia profundamente com a boca aberta, sem a menor noção de ter ou não ter pâncreas.
No segundo dia, achou o professor tenso.
Estranho para pessoa que lhe parecia tão calma.
Entraram novamente em relaxamento e, devidamente conhecedora de onde se encontrava seu pâncreas, inspirou e expirou em paz.
Não demorou muito a escutar o primeiro ronco.
Saiu bruscamente do seu estado de quase dormência com o grito do professor:
- Por favor, tentem se manter acordados, porra!!!
O professor também tinha lá seus problemas...
No terceiro dia, conheceram “a invertida”.
Posição que as pernas ficam no lugar onde a cabeça deveria estar.
- Muita concentração, pedia o professor. Deixem o pensamento passar como nuvens. Não se prendam a ele.
Suspensa apenas pelas mãos, ela pensou nos pagamentos que tinha que fazer no dia.
Caiu de cara no chão.
Chamaram o SAMU.
Ela foi com as dívidas e com o ombro deslocado para o Pronto Socorro.
Não desanimou.
Voltou.
Para o júbilo de todos, inclusive do professor.
Ao tentar fazer novamente “a invertida”, chutou a cara de um e caiu com os dois pés em cima de lugar “bem sensível”, digamos assim, do colega ao lado, que perdeu o fôlego, ficou roxo e por fim gritou durante cinco minutos seguidos.
O professor perdeu a calma, pegou-a pelo braço e gritou:
- Você já rezou hoje???
Saiu dali arrasada.
Entrou num bar e pediu um cavalinho.
Acabou tomando o haras inteiro.
Ioga, para ela, não era tão suave como parecia.
Ia tentar o alpinismo.
(Uma homenagem a minha querida sobrinha Luciana)