Na Onda dos Seqüestros
Estamos em Agosto de 1990, faltando dez anos para o início do terceiro milênio.
A indústria de seqüestros está implantada na cidade do Rio de Janeiro e se espalha por todo o Brasil.
O seqüestro de maior repercussão foi o do empresário Medina. Algumas notícias e comentários afirmam que dificilmente será esclarecido…
O crime e a marginalidade crescem. Não poderia ser diferente, pois as oportunidades de trabalho diminuem, o processo educacional piora, a mídia banaliza tanto o crime quanto a violência e a impunidade desfila pelas cidades.
Ocorre que existe uma série de outros seqüestros acontecendo todos os dias e que, também, dizem respeito a cada um de nós, sobre os quais a imprensa não faz alarde e os seqüestradores dificilmente serão punidos.
O samba-canção e o choro, por exemplo, são seqüestrados todos os dias pela maioria das emissoras de rádio. Uma boa parte dos donos de escolas seqüestra o ensino de nossas crianças e de nossos jovens. O governo, os preços dos planos de saúde e os preços dos remédios seqüestram a nossa assistência médica.
A união é a alternativa que nos resta. Por meio dela, controlaremos o nosso grande inibidor – o medo, e nos sentiremos mais fortes para as lutas de reconstrução social, pois são elas que seqüestram a injustiça.
“Seqüestrando Geral” registra o poder do crime marginal organizado, que cresce a cada dia, tendo como inspiração e motivação e, quem sabe, até como parceiro, o crime institucionalizado.
Sequestrando Geral
O bandido sequestra o mocinho.
A polícia e o ladrão, a segurança.
A escola sequestra o ensino
e o banqueiro, a poupança.
O cartola sequestra o esporte,
a corrupção, a esperança.
A fé sequestra a morte
e o lucro, a saúde e o transporte.
O poder sequestra a justiça,
o latifúndio, a terra.
O dever sequestra a preguiça
e a nuvem, o pico da serra.
A luta sequestra a injustiça.
a ambição, o salário.
A fraternidade, a cobiça
e a alienação, o ideário.
A união sequestra o medo,
a rádio, o samba-canção.
A recessão sequestra o emprego
e “ela”, teu coração.
e “ela”, teu coração.