NO PRIMEIRO DIA DE OUTONO...
 
Inicio de outono, o clima na cidade já se apresenta alterado. Temperatura mais amena, a chuva dos últimos dias deu uma trégua nesta tarde do primeiro dia de outono. Saio á tardinha para um passeio pelo bairro, caminhando devagar, admirando o cenário que a cidade me oferece. Nenhuma novidade, mas é sempre um espetáculo à parte, caminhar pelas ruas de São Paulo, observando a vida pulsar na correria das pessoas.
 
Largo do Arouche – um lugar agradável, frequentado por executivos nos finais de tarde, para um rápido happy hour, namorados nas várias floriculturas da praça, comprando flores para surpreenderem a mulher amada, intelectuais, artistas, pintores, escritores, em uma mistura de classes, comum em toda metrópole. Esse é o charme da cidade.
 
Paro na minha Livraria preferida, a Companhia de Leitura, pequena e aconchegante, para um café delicioso, folhear uns livros – quem sabe até adquirir algum que me pareça interessante – ocupo uma pequena mesa no cantinho de sempre, sorvendo meu café quente e forte, abro o livro que peguei na prateleira – dos muitos que ficam sem o plástico de proteção para manuseio e leitura – e começo a ler a apresentação e prefácio.
 
Era um romance “erótico”, lembranças (ou coisa que o valha) de alguém que esteve preso e resolveu relatar suas aventuras de visitas íntimas na prisão, sei lá. Sem entrar no mérito da questão, se é válido ou não, achei curioso o fato de um livro daqueles estar ali, na prateleira de uma Livraria, à disposição dos leitores, enquanto assistimos a tantos escritores de qualidade sem patrocínio para editar sua obra literária. Qual seria a receita?
 
Justiça seja feita, o autor merece aplausos! De alguma forma, encontrou o caminho para editar seu livro – provavelmente com a ajuda de um Ghost Writter – o que não lhe tira o mérito. Tenho diante de mim a obra de alguém que conseguiu seus objetivos, válidos ou não (para ele, certamente é), mas que não conseguiu prender a minha atenção.
 
Enquanto isso nós, escritores e poetas amadores, cá do outro lado dessa linha divisória -  que não consegue separar o bom do ruim e do mais ou menos - continuamos a sonhar, aguardando que algum editor se interesse por nossos escritos e, um dia, possamos folhear um livro de real qualidade de um de nossos amigos deste Recanto das Letras.
 
Ou (sonhar não paga imposto), quem sabe, alguém passe pela calçada da aconchegante  livraria Companhia de Leitura - no Largo do Arouche -  entre, peça um cafezinho saboroso e folheie o meu livro, editado pela coragem e ousadia de algum editor.

Limito-me a  rir só um pouco, porque já é tarde e estou com sono. Meus delirios literários param por aqui. Boa noite!