A festa estava incompleta
A festa com certeza seria grande. Percebia-se pela quantidade de mesas espalhadas por toda parte do terreno que rodeava a casa. A aniversariante estava radiante. Os carros iam chegando; pessoas viam de todos os lados. Prometia ser uma festa que ficaria na história do bairro.
Mas assim que fomos recebidos, e levados até à mesa que nos tinha sido destinada, percebemos que os anfitriões e à maioria dos convidados estavam como que esperando algo que não sabíamos definir o que seria.
Serviram alguns comes e bebes, mas a coisa toda parecia um carro que não saia do lugar. De repente tudo mudou com a chegada de um carro, e em seguida outros vinham atrás como se fosse uma carreata. Era o prefeito que chegava.
O clima mudou. No rosto das pessoas que estavam sentadas, vimos abrir um sorriso que ficava congelado até que o tão esperado Convidado passasse por entre às mesas. Os olhos de todos estavam fixos na pessoa do prefeito. A aniversariante não pôde usufruir o que tinha direito. O motivo da festa não era ela, mas ele.
Pude presenciar o mais alto grau de bajulamento por parte de uma das convidadas: A esposa do prefeito resolveu voltar ao carro para pegar o presente da aniversariante. Uma convidada, usando um salto altíssimo, daqueles bem fininhos; foi atrás com a finalidade de mostrar que era íntima do casal famoso. Só que o terreno era de areia, e quanto mais ela andava, tentando equilibrar-se, mas tombava, e enterrava o salto mais fundo ainda. Pra disfarçar, rebolava, e dava um riso como se estivesse andando numa passarela. Ficamos com dó da coitada porque o pacote do presente era pequeno, e ela fez uma tremenda viagem de vinte metros que lhe valeu por meio quilômetro. E pior, voltou com as mãos vazias.
Quanto aos carros que vieram atrás, descobri que quando o prefeito recebia um convite, algumas pessoas ficavam à espreita até ele passar, e seguiam atrás para dar a entender que faziam parte de um grupo seleto; não eram Zés ninguém.
Dava pra perceber que até os donos da casa estavam em estado de graça. Pareciam pavões. Estufaram o peito e levaram o mais rápido que conseguiram o prefeito e toda sua comitiva para uma mesa que estava reservada. Ali havia de tudo, segundo um dos secretários: da buchada à feijoada. Do Churrasco a todo tipo de carne feita no forno ou fora dele. Bebida não faltava.
As pessoas não arredavam o pé. Esperavam pela saída do prefeito para novamente apertar sua mão. Não pude ficar para ver todo espetáculo.
Resultado de todo esse esforço e bajulação: na hora que foi preciso escolher quem seria o próximo sacrificado, o felizardo fora aquele dono da casa que com todas honrarias recebera o senhor prefeito. Na hora de colocar um outro bajulador mais esperto, o esposo da bajuladora teve sua cabeça decepada.
Aí alguém me pergunta: Por que a senhora nunca é vista entre os grandes da sociedade? Eu respondo com toda sinceridade:
_Os grandes da sociedade não são encontrados entre os que exercem cargos, entre os políticos, e muito menos entre os que têm altos valores em bens materiais. Os grandes da sociedade não estão nas vitrines da vida; muito menos nas passarelas da fama, nem entre os palcos do sucesso. Os grandes da sociedade estão entre os sábios que adquiriram sabedoria numa fonte que poucos desejam descer pra chegar até lá.
Esses sábios não têm seus nomes nos escritos em lugar algum porque são anônimos. Não são vistos, não proclamam suas virtudes porque nem eles sabem que conseguiram colocar em prática os ensinamentos do tempo e da vida. Aprenderam com seus erros, e nunca tiveram vergonha de admitir que não sabiam de nada. Esses sábios estão em constante processo de aprendizagem, e por isso mesmo nunca deixarão de ser eternos aprendizes.