Cadê as crianças?
 
 
Uma cena comum em um Shopping:
Um “pingo de gente” grita com um adulto que talvez seja a mãe (tia, prima, madrinha... não vem ao caso).
-Você não vai entrar nesta loja! Eu quero ir naquela!
Ela bate raivosamente na mulher que segura sua mãozinha, nas coxas, quadris, até onde chegam seus bracinhos.
-          Eu não vou! Quero entrar ali! (apontando para o destino do seu imaturo desejo)
Parece que a mulher segreda ao seu ouvido algo que contraria a criança, porque ela solta-se e lança-se ao chão. Esperneia e diz palavrões, ainda com erros de pronúncia.
 
Observando melhor as protagonistas desta cena, pode-se notar que algo está totalmente ao avesso, truncado, fora do tempo, espaço e lugar.
 
Uma delas usa mini saia jeans e um top minúsculo. Pendurada no ombro, uma bolsa com franjas, sandália de salto, batom, blush e unhas pintadas. Assim apresenta-se a criança. (A criança?). Sim, ela mesma.
 
O que acontece é que cenas e situações tão comuns, não faz tanto tempo assim, já caíram no esquecimento e na vontade: pais executando conscientemente suas tarefas; crianças vestidas como crianças; hora de brincar, de dormir, de estudar e de alimentar-se, e alimentar-se bem; exercício da obediência e da disciplina; educação.
 
As crianças mexem a bundinha, dançam o tchan, o arrocha e o créu  melhor que os dançarinos das bandas; possuem aquele vocabulário que os pais acham engraçado e têm atitudes destoadas com sua idade que os pais rotulam de inteligência.
Crescem, tornam-se pré-adolescentes, adolescentes e caem no mundo, saem à noite, sem hora para voltar e sequer dizem para onde vão.
Tudo bem, para os pais. O que vão fazer? Já não sabem mais...E tem algo a ser feito?...
 
A realidade é que o herói ou heroína, decidindo sobre a sua vida e a dos pais, veste a sua “capa” , toma seu “energético”, pega a chave do batveículo (dos pais) e sai por aí . Não salvando vidas, mas perdendo-se.
 
E os pais? Ah! Os pais... Vivendo cada um nas suas casas, marcam um encontro. A situação não pode continuar assim...
Vão a um bar, pedem um drinque e no início da conversa esbravejam como suas crianças, exime-se da responsabilidade, culpam o outro, a TV, os coleguinhas, os vizinhos, o sistema, o País, os avós, os professores e até a chuva, ou o calor. Olham-se (mas não se vêem) e perguntam:
-          Onde foi que erramos?
Tarde demais... O trem passou e eles o perderam.
A família? Esta já era.
Cuidemos de nossas crianças!


Do livro Presente da Arara Azul